Mulheres negras buscam inclusão e mais espaço no mercado de trabalho

Mesmo com trajetórias vitoriosas, empresárias falam sobre as resistências e a luta por empresas mais diversas; dados do IBGE apontam desigualdade salarial e nas vagas

  • Por Jovem Pan
  • 01/05/2022 13h12 - Atualizado em 01/05/2022 13h13
Reprodução / Uzoma Uzoma Elizabete Leite Scheibmayr e Eliane Leite Alcantara Malteze, fundadoras da Uzoma

A executiva do Banco Santander Mônica Marcondes, economista, formada em direito e mestre em engenharia elétrica, conta que chegar a esse currículo não foi fácil e muitas vezes ela pensou em desistir. “Há 15, 20 anos atrás não tinha boa aparência. Então disse ‘quero estudar porque tenho fome de conhecimento é preciso saber mais”, relembra. A carreira de Mônica começou em concurso público. Aprovada, ela trabalhou na extinta Eletropaulo, um ambiente formado apenas por homens brancos e foi desafiada. “Fui fazer mestrado na USP [Universidade de São Paulo] e eu queria de alguma maneira, sútil até, mostrar para todo mundo que incapacidade técnica não seria o motivo que me tiraria do lugar“, relata a economista, que voltou para a faculdade para estudar direito. “As pessoas continuam falando que é pouco, que ainda falta alguma coisa”, relata a economista.

A história da Mônica é emblemática porque mostra uma trajetória vitoriosa, mas também de muita resistência. A maioria dos habitantes brasileiros é negra, representando 56% da população brasileira. No entanto, o mercado de trabalho ainda não abraçou esse público e a situação fica ainda mais clara quando dados revelam que os pretos ocupam espaço pouco expressivo. Somente 30% das vagas de lideranças em empresas são ocupadas por pessoas negras, o que revela um cenário de desigualdade. Quando o assunto é salário também há desigualdade. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019 mostra que os profissionais negros ganham, em média, 73,9% a menos que os brancos.

Elizabete Leite Scheibmayr, matemática, advogada, co-fundadora da Uzoma Diversidade Cultura e Educação, sentiu tudo isso na pele, cansou e quis mudança. Ela chamou a irmã, Eliane Leite Alcantara Malteze, e juntas criaram a Uzoma, que em nigeriano quer dizer “um bom caminho a seguir”. A consultoria opera em grandes empresas e multinacionais recrutando oportunidades inclusivas de trabalho. Elizabete revela que não tem sido fácil, mas a inovação começa a atrair o empresariado. “Começamos com multinacionais, foi o maior desafio. Começamos pensando no treinamento, a contratação veio depois. Tive um cliente que pediu ‘Elizabete, quero contratar três gerentes’, porque a gente fez um compromisso de trazer diversidade”, relata. Outra consultoria inclusiva é a Potências Negras. Ana Minuto, co-fundadora da iniciativa, exalta os avanços e fala sobre as dificuldades. “[Antes eram] poucas opções, por exemplo, de cremes para cabelo para mulheres negras. Essa opção aumentou e através da tecnologia tenho várias opções e posso escolher. Antes não podia escolher, não tinha nem produto”, menciona.

Alguns acontecimentos recentes ajudaram a mudar a realidade do mercado para negros. O caso mais recente teve um papel importante foi o de George Floyd, homem negro, de 46 anos, que foi assassinado por um policial nos Estados Unidos. O crime deixou na história o registro sobre a importância da diversidade nas instituições. “Pelo século XXI, após George Floyd, João Marcos, e todo mundo acha que foi um advento extraordinário que fez o mundo das pessoas mudarem. Não muda, isso está impregnado e infelizmente às vezes sou a chata de plantão. Você tem que falar disso todos os dias”, diz Mônica Marcondes. “O Brasil tem uma dificuldade de punir, tem uma dificuldade em chancelar que tem um problema e resolver um problema”, diz Elizabete Leite Scheibmayr.

*Com informações das repórteres Yasmin Costa e Camila Yunes

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