“Mundo tem motivos de sobra para se preocupar com guerra comercial”, diz diretor da OMC

  • Por Jovem Pan
  • 25/07/2018 15h20
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Agência EFE "Tem índices que mostram que os investimentos estão retraindo, que as comprar futuras estão diminuindo. Tudo isso terá um impacto", apontou Azevedo

Nas últimas semanas, os governos dos Estados Unidos e da China iniciaram uma guerra comercial que vem movimentando o cenário econômico mundial. Desde então, diversas medidas e contramedidas foram adotadas em muitos setores da economia, aumentando as taxas de importação de diversos produtos e fazendo com que outros países, e até mesmo a União Europeia, entrassem nas disputas. Para Roberto Azevedo, diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), já existem “motivos de sobra” para gerar preocupação sobre o futuro da economia e do comércio mundial.

“Essas medidas restritivas dobraram nos últimos seis meses e cobertura de comércio não só dobrou, mas também o volume de comércio atingido por elas aumentou em 50%. O FMI acabou de publicar um relatório que alerta para o risco de retração do PIB mundial em 0,5% já em 2020 apenas com as medidas que já foram implementadas, fora as que estão sendo anunciadas e poderão vir no futuro. Só esse 0,5% já representa uma perda da economia mundial de 440 bilhões de dólares por ano. Tem índices que mostram que os investimentos estão retraindo, que as comprar futuras estão diminuindo. Tudo isso terá um impacto”, apontou Azevedo, em entrevista exclusiva à Jovem Pan.

De acordo com ele, a OMC já está se movimentando para evitar que as tensões aumentem ainda mais e revelou que tem conversado com alguns chefes de estado como o presidente francês Emmanuel Macron, a chanceler alemã Angela Merkel e a primeira-ministra inglesa Theresa May. Entretanto, ressaltou que o posicionamento de organismos internacionais não será suficiente para resolver o problema.

“É preciso que os setores internos desses países também se manifestem. é Muito mais fácil um líder ouvir as suas bases do que ouvir alguém de fora. Esperamos intensificar o número de ações concretas para reduzir esse cenário de tensões. A meu ver, as conversas ainda estão atrasadas”, apontou.

Escalada de ameaças

Para Azevedo, o ideal seria que os países tivessem envolvido a OMC antes nas tratativas, para que a guerra de medidas e contramedidas não chegasse ao ponto em que se encontra. Por outro lado, ressaltou que o mais importante no momento é que as negociações aconteçam dentro das regras da organização, com os foros de negociação e os mecanismos disponíveis para tentar diminuir as tensões.

Sobre o fato de os EUA se apoiarem na alegação de que seus motivos são protecionistas, o diretor lembrou que esse é um dispositivo que existe desde o começo da OMC e que “argumentos existem de todos os tipos e de ambos os lados”.

“Toda vez que há sanções econômicas, embargos, bloqueios, acontece com o argumento de segurança nacional. Os outros países nem questionam porque sabem que essa vai ser a argumentação. O que estamos vendo agora é um uso pouco ortodoxo desse argumento, e o caso do aço é típico. Muitos países questionam e dizem que esse não é objetivo desse dispositivo que foi criado”, finalizou.

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