‘No fundo, o plano da Rússia é recompor a União Soviética’, afirma Ernesto Araújo

De acordo com o ex-chanceler do governo Bolsonaro, países ocidentais demonstram fraqueza diante do conflito e abrem margem para que os russos invadam outros territórios

  • Por Jovem Pan
  • 25/02/2022 10h24
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EFE/Joédson Alves Ernesto Araújo Ex-chanceler do governo Bolsonaro, Ernesto Araújo

O ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil Ernesto Araújo apontou na última quinta-feira, 24, que um dos motivos para a invasão da Rússia à Ucrânia seria uma “fraqueza” dos países ocidentais. Araújo também disse acreditar que Putin não vai parar na Ucrânia e que deverá realizar operações militares ofensivas em outros países. Para falar sobre o assunto, o ex-chanceler concedeu uma entrevista ao vivo nesta sexta-feira, 25, para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News. Ele afirmou acreditar que o objetivo maior dos russos, a médio e longo prazo, seja recompor o antigo bloco comunista do leste europeu, a União Soviética.

“A gente pode esperar tudo, porque a Rússia está encontrado uma resistência apenas da própria Ucrânia. E próprio presidente da Ucrânia tem dito isso, que está se sentindo abandonado pelo ocidente. E a Rússia está avançando praticamente como quer. No fundo, o plano dele [Putin] é, pelo menos, começar a recompor a antiga União Soviética. Isso já afetaria os países bálticos, a própria Bielorrússia que hoje já é muito próxima de Moscou, mas, quem sabe, a Rússia já vai transformar isso numa anexação, a anexação da própria Ucrânia, obviamente, que esse é o primeiro objetivo. A gente tem que olhar para uma perspectiva de médio e longo prazo e pensar no que a Rússia realmente quer no mundo. Isso afeta seguramente a Europa, mesmo que a Rússia não invada militarmente outros países da Europa, além daqueles da ex-União Soviética, evidentemente ela quer projetar a sua influência de maneira dominante na Europa. Me parece bastante claro isso. Então, a gente tem que ficar atento não só para movimentos militares, mas para as consequências do que está acontecendo na Ucrânia, consequências da projeção de insegurança que o Ocidente está colocando a Europa, a projeção de incapacidade de defesa e a projeção de força que a Rússia está fazendo. Seja militarmente ou não, essa sombra que Putin está lançando sobre a Europa seguramente vai continuar vindo para oeste e continuar criando uma zona de influência russa em toda a Europa”, opinou Araújo.

Questionado sobre a melhor forma de ajudar os brasileiros que vivem na Ucrânia a deixar o país, o ex-chanceler do governo Bolsonaro disse não ter como avaliar a situação e que ela fica a cargo da equipe do ministério, mas que, na sua opinião, essa não deveria ser a única forma de atuação do país no conflito. “Eu acho que a nossa política para essa situação não deveria se limitar a esse apoio aos brasileiros. Isso é importante, essa questão da assistência consular. Mas eu acho que, infelizmente, estou vendo uma volta a um padrão anterior, antigo, da política externa brasileira, que é: quando tem uma crise, a única coisa a fazer é simplesmente tirar os brasileiros, que é uma maneira simplesmente de dizer que a única ação do Itamaraty é consular . Não estou vendo absolutamente ação nenhuma na questão de fundo, que é a questão política”, disse.

Já sobre o posicionamento do Brasil diante do conflito, Araújo disse que o Jair Bolsonaro errou ao visitar Vladimir Putin. “A visita do presidente à Rússia certamente foi um erro. Tentei alertar para isso antes da visita. E, agora, com a invasão da Ucrânia, isso se configurou como uma realidade, porque sinalizou o contrário daquilo que eu acho que o presidente queria, que era a neutralidade. Sinalizou preferência pela Rússia. Isso é o que está sendo lido pelo mundo inteiro. E essa leitura da comunidade internacional e da própria Ucrânia agora está sendo reforçada pela reação à invasão da Rússia. Se realmente o Brasil não está do lado da Rússia, seria o momento de condenar ela pela invasão. Se o Brasil quer a paz, a meu ver, [o posicionamento] deveria ser de pressão contra a Rússia. O Brasil deveria se somar àqueles que estão tentando fazer pressão na Rússia. Se a Rússia não sentir nenhum tipo de pressão negativa, porque eles vão retirar suas tropas?”, questinou o ex-chanceler.

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