Norte da Europa sofre uma das temporadas mais escuras de todos os tempos

  • Por Ulisses Neto/Jovem Pan em Londres
  • 20/01/2018 15h42
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EFE/ Neil Hall Pedestres caminham em rua de Londres durante rara manhã ensolarada

Na capital do Reino Unido, o final de semana vai ser de tempo nublado, chuvoso, escuro, bem do jeito que tem sido nos últimos meses.

Aliás, eu recebo com bastante frequência mensagens de ouvintes comentando as minhas reclamações diárias sobre o clima cinzento nesta pequena ilha do Atlântico Norte.

Claro que morar na Inglaterra é um grande privilégio. Mas aturar o clima é um desafio daqueles, principalmente no inverno.

Esse ano, em especial tem sido ainda pior. O norte da Europa tem sofrido uma das temporadas mais escuras de todos os tempos.

Vejam o exemplo de Bruxelas, na Bélgica. Os moradores da cidade puderam aproveitar apenas dez horas e 31 minutos de sol no mês passado.

No mês inteiro! Parece pouco, mas em Lille, na França, está sendo ainda pior. Apenas duas horas e 42 minutos de sol em janeiro até agora.

O jornal francês A Voz do Norte chegou a fazer uma manchete desesperada na semana passada dizendo o seguinte: O Sol Morreu?

O Instituto Meteorológico Real da Bélgica declarou que dezembro foi o segundo mês mais escuro desde 1887, quando esse tipo de medição começou a ser feita.

E eu não preciso lembrar que o corpo sofre, literalmente, com a falta de luz do sol, principalmente pela manhã. Por isso, peço mais compaixão da audiência.

Quem não teve muita compaixão de seu eleitorado – e nem mesmo dos colegas – foi o ministro do exterior britânico, Boris Johnson.

Ontem eu falei aqui no Jornal da Manhã do plano dele de construir uma ponte sobre o Canal da Mancha ligando o Reino Unido à França.

Os britânicos passaram a sexta-feira inteira discutindo – e ridicularizando – a ideia. Até a primeira-ministra, Theresa May, diminuiu as expectativas sobre a eventual construção.

Não porque seria uma ponte muito extensa, cerca de 35 quilômetros separam Inglaterra e França no Canal da Mancha, que desse lado é chamado de English Channel, ou somente The Channel.

Existem pontes até bem maiores do que isso ao redor do mundo.

O problema é que o tráfego de cargas por lá é intenso. O estreito de Dover, ou passo de Calais, como preferir, é uma das rotas de cargueiros mais movimentadas do mundo.

O estreito está na parte do Canal da Mancha em que a Grã-Bretanha fica mais próxima do continente europeu.

São mais de 500 navios passando por ali todos os dias. Logo, uma obra dessa magnitude não seria realizada sem trazer grandes transtornos.

E ademais existe o custo. A título de comparação a ponte entre Macau e Hong Kong, que tem mais de 55 quilômetros, custou o equivalente a 12 bilhões de libras.

Isso com regras de construção bem mais flexíveis que as europeias e utilizando trabalhadores chineses, lembra o professor de arquitetura, Alan Dunlop, da Universidade de Cambridge em entrevista ao jornal The Guardian. Dunlop afirma que por essas bandas uma obra desse porte custaria dez vezes mais, ou mais de meio bilhão de reais.

Como o brincou o professor, sairia mais barato empurrar a França pra mais perto do Reino Unido.

Logo, podemos concluir que a ponte entre Dover e Calais não deve sair tão cedo do papel. Mas eu ainda suspeito que ela será inaugurada antes da ponte entre Santos e Guarujá, uma promessa que eu ouço desde os tempos que eu corria descalço no Canal 3.

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