“O Estado está na mão do crime organizado”, diz ministro da Defesa sobre prisões

  • Por Jovem Pan
  • 03/01/2018 10h18
Marcelo Camargo/Agência Brasil Marcelo Camargo/Agência Brasil Raul Jungmann ainda acusou os Estados brasileiros de firmarem um "acordo tácito" com as "gangues" que estão dentro das cadeias

Em entrevista ao Jornal da Manhã da Jovem Pan nesta quarta-feira (3), o ministro da Defesa Raul Jungmann assumiu que “o Estado não tem o controle do sistema prisional” e disse que o sistema de cadeias, “particularmente estadual, é o inverso do que deveria ser”.

“Em lugar de ser um espaço de isolamento e controle praticamente absoluto, o Estado está na mão do crime organizado”, afirmou Jungmann. “Remos chefes de quadrilhas que foram geradas dentro do sistema prisional e que, de lá de dentro, continuam mandando em suas facções”, disse também.

O ministro da Defesa ainda acusou os Estados brasileiros de firmarem um “acordo tácito” com as “gangues”, permitindo a entrada de celulares nos presídios. Para Jungmann, o sistema estadual de presídios está “saturado” e tem “um nível alto de corrupção”.

“Acho que há um acordo tácito entre Estados através de sistemas prisionais e essas gangues que estão presas”, disse. “Não é uma tarefa tão difícil colocar um raio-x ou um detector de metais, até porque o governo federal disponibilizou isso para quem quisesse”.

Jungmann ainda citou o déficit de agentes penitenciários. Segundo o ministro, há cerca de “5 agentes penitenciários cuidando de 500, 700 presos”, o que classifica como “absurdo dos absurdos”.

“Ao ter a superlotação e déficit em termos de pessoal, isso passa para o controle dessas gangues e o Estado não quer confusão, não quer brigas”, reconheceu. Para o ministro da Defesa, os governos agem com os criminosos na base da regra “não mexe comigo, que eu não crio problemas para vocês”. Jungmann deu essas declarações ao ser questionado por que os governos têm tanta dificuldade de bloquear o contato entre dentro e fora das cadeias.

Apesar do “acordo” entre governos e facções, Jungmann diz que “eventualmente a disputa entre gangues leva a essas rebeliões e se torna um massacre maximizado porque um a cada dois (presos) está armado, daí a barbárie”.

No primeiro dia do ano, mais de 200 presos fugiram em uma rebelião em Goiânia (GO) que deixou nove detentos mortos. Mais da metade foi recapturada, porém dezenas seguem foragidos. Um dia depois, nesta terça (2), dois agentes penitenciários foram mortos em Anápolis, a 60 km da capital de Goiás.

 

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