Operações resgatam quase mil pessoas em condições análogas à escravidão em 2020
Ano passado foi de recorde em investigações da PF contra o crime, que expõe pessoas a condições desumanas, em alojamentos precários e sem água potável
O Brasil resgatou 942 pessoas em situação de trabalho análogo à escravidão em 2020. Segundo o Ministério Público do Trabalho, a maior parcela de casos foi registrada nos estados da Bahia, Goiás, Maranhão e Minas Gerais. O ano passado foi de recorde em investigações da Polícia Federal contra o crime, que expõe pessoas a condições desumanas, em alojamentos precários e sem água potável. Ao todo, foram 266 estabelecimentos fiscalizados e cerca de 100 foram identificados como locais de trabalho escravo contemporâneo. O maior flagrante da Polícia Federal foi em uma seita religiosa no Distrito Federal, onde 78 pessoas foram resgatadas.
De acordo com a PF, Minas Gerais é o Estado que mais registra casos nos últimos 5 anos: 351. O vice-coordenador de Combate ao Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, do Ministério Público do Trabalho, Italvar Medina, destaca que a maioria dos casos é registrada em zonas rurais. “Na área do café, carvoaria, plantio e colheita de cebola. Mas também houve importantes resgates de trabalhadores urbanos, na área doméstica, onde foram encontradas trabalhadoras há décadas sem direitos, nem mesmo salários.” Um caso de repercussão nacional aconteceu na cidade Patos de Minas, onde uma mulher negra foi resgatada, no final do ano passado, após 38 anos servindo uma família.
Madalena Gordiniano vivia em um quartinho em um apartamento e foi forçada a trabalhar como empregada desde os oito anos de idade. O procurador do Ministério Público do Trabalho destaca que 70% dos resgatados são negros ou pardos. Na análise de Italvar Medina, esse perfil dos trabalhadores revela a persistência do racismo estrutural no país. Neste ano, a Operação resgate da Polícia Federal já realizou mais de uma centena de resgates. “Já começamos agora em janeiro uma grande operação que já resgatou, até o momento, mas de 110 trabalhadores.” Desde que o grupo de atuação começou os trabalhos contra o trabalho análogo à escravidão, em 1995, mais de 55 mil pessoas já foram resgatadas.
*Com informações do repórter Vinícius Nunes
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