Pandemia impactou negativamente 1 em cada 3 crianças na primeira infância, aponta Unicef
Houve redução de 340 mil matrículas em creches, além do crescimento da taxa de mortalidade
Uma em cada três crianças brasileiras na primeira infância sofre impacto negativo relacionado ao desenvolvimento infantil. É o que revela a pesquisa Desigualdades e Impactos da Covid-19 na Atenção à Primeira Infância, lançada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal em parceria com o Itaú Social e a Unicef. Marina Fragata Chicaro, diretora de conhecimento aplicado da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, avalia que, de 2019 a 2021, houve uma diminuição de quase 340 mil nas creches e na pré-escola, uma diminuição de quase 3% na taxa bruta de matrículas. “Essa queda nas matrículas na creche só não caiu no norte do país, mas a gente precisa também dizer que a região norte é onde esse patamar de matrículas já é historicamente inferior à média nacional. Então, a gente tem também uma queda significativa. E as regiões sul e sudeste foram onde a gente pôde observar uma maior redução, levada pela rede privada”, afirma Chicaro.
O estudo apontou também que a transferência de renda emergencial durante a pandemia foi relevante em diferentes perspectivas, inclusive no combate à insegurança alimentar. Segundo o levantamento, recompor o poder de compra das famílias e a capacidade de financiar necessidades básicas, de moradia, alimentação, higiene e transporte foi uma medida essencial que pode e deve ser articulada pelos entes federativos. Segundo o estudo, o período pandêmico aumentou a mortalidade materna em quase 90% em todo o país desde 2019; 53% desses óbitos foram por infecção do novo coronavirus. Chicaro diz que as mulheres pretas apresentaram a maior razão de mortalidade materna observada na pesquisa. “A gente teve uma ordem de 194,3 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos para as mulheres pretas em comparação com 123,2 óbitos por 100 mil nascidos vivos no caso de mulheres brancas”, diz.
O levantamento permite que o gestor público tenha um diagnóstico que ajude a priorizar e planejar as políticas públicas com o compromisso de minimizar os danos, reestabelecer os direitos e prioridades para essa população. Chicaro defende que é possível enfrentar estrategicamente os desafios a fim de superá-los com a urgência e a prioridade que a primeira infância requer. “Esta absoluta prioridade que a Constituição já garante para a criança e o adolescente, entendendo a primeira infância como essa etapa tão importante para a vida. Então, a gente considerar que a gente precisa fazer ações, políticas públicas muito prioritárias para esse público, a gente também precisa considerar que endereçar esses desafios e priorizar a criança significa também investir em políticas públicas para os cuidadores dessas crianças, sobretudo para as mulheres, para as mães e que estão em situação de extrema vulnerabilidade”, argumenta.
*Com informações do repórter Victor Moraes
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.