Para infectologista da USP, não há sistema de saúde que consiga conter o coronavírus

  • Por Jovem Pan
  • 14/02/2020 08h53 - Atualizado em 14/02/2020 09h14
Prefeitura de Curitiba Ho Yeh Li é coordenadora da UTI de moléstias infecciosas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

A infectologista Ho Yeh Li, coordenadora da UTI de moléstias infecciosas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que participou da operação que resgatou os brasileiros em Wuhan, epicentro chinês do coronavírus, também está em quarentena. O isolamento completa uma semana no próximo domingo.

Em entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã nesta sexta, Yeh Li afirmou que não há como conter um vírus como o Covid-2019 quando ele chega com a força que atingiu Wuhan. 

“A china é um país de bilhões, mas vamos pegar só Wuhan. Pelo que sabemos, antes de iniciar essa epidemia, essa era uma região com população em torno de 11 milhões de pessoas, e vimos a quantidade de pessoas que adoeceram. São Paulo tem 12 milhões. Se a doença chega como aconteceu em Wuhan, não tem como conter isso. E falo de Nova Iorque, Londres, Tóquio, essas regiões muito populosas. Se a doença se disseminar igual em Wuhan, não tem sistema de saúde que consiga atender isso”.

Nesta semana, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta afirmou que no Brasil, a chance de morrer por dengue é muito maior que por coronavírus. A infectologista concorda. 

“Eu concordo plenamente com o ministro Mandetta. Primeiro, que o Coronavírus ainda não chegou no Brasil. A dengue já está aqui, circulando. Cada ano estamos vendo novos vírus, novos tipos de dengue. Sabemos que uma pessoa que já foi infectada, quando se infecta por um tipo diferente, tem risco de morrer muito maior. Infelizmente, é uma doença que já está epidêmica no nosso meio. Ele está certíssimo. Neste momento, risco de morrer de dengue, febre amarela, chikungunya ou zika é muito maior”, afirmou. Vale lembrar que o país não conta com nenhum caso confirmado, e avalia seis suspeitas. Mais de 40 casos já foram descartados.

Yeh Li endossa também a fala de Yang Wanming, embaixador da China no Brasil, que alertou sobre os danos que o pânico relacionado a doença pode causar. “Podemos comparar as diferenças entre esses vírus, H1N1 e Sars. Em relação a risco de transmissão, ele é muito menor que H1N1. Por outro lado, é maior que Sars. Porém, o risco de óbito é muito menor que a sars”, ela explica.  “Por isso eu concordo que a gente está criando um cenário de pânico que tem prejudicado, na minha opinião, diversas situações, inclusive o cenário econômico. Tomar as medidas para contenção é necessário, sem dúvida, mas acho que o coronavírus gerou um pânico mundial e não só a parte econômica, e está causando outras situações que temos que ter cuidado, como a xenofobia.”

 

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