Paris espera que Reino Unido se alinhe a UE; Johnson prefere regras da OMC
As negociações para um acordo de livre comércio entre Reino Unido e União Europeia ainda nem começaram, mas os dois lados já estão se estranhando. Como tudo relacionado ao Brexit, essa nova fase do processo de separação promete ser bastante tensa e cheia de impasses.
O presidente francês, Emmanuel Macron, já deixou claro que quer endurecer para o lado dos vizinhos. O governo de Paris, que na prática tem sido o líder das negociações com os britânicos, espera que o Reino Unido se alinhe aos padrões da União Europeia em questões ambientais, trabalhistas e sociais.
A preocupação do bloco é manter os custos de produção aqui na Grã Bretanha alinhados ao que o continente tem e pretende ter. Por exemplo, a União Europeia quer ampliar ainda mais suas leis de proteção ao meio ambiente nos próximos anos para combater o aquecimento global. Mas isso tem um custo alto – principalmente para a indústria e o agronegócio do continente.
Se os britânicos não se mantiverem alinhados nessas diretrizes, os europeus podem acabar impulsionando as empresas da Grã Bretanha — o que no longo prazo criaria um competidor desleal à sua porta e com livre acesso ao mercado europeu.
Acontece que os britânicos não estão dispostos a aceitar esse alinhamento automático, até porque o país votou para seguir o seu próprio caminho. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já avisou que prefere fazer comércio com a União Europeia pelas regras da OMC a ter que aceitar as regras do bloco.
Na prática, o Reino Unido pode acabar fazendo trocas comerciais com a União Europeia pelas mesmas regras que o Brasil faz atualmente já no ano que vem.
Johnson está fortalecido pelo resultado das eleições recentes. Na quinta-feira (13) ele anunciou uma surpreendente reforma ministerial e a queda mais inesperada foi a do secretário do tesouro, Savid Javid.
A troca no cargo ocorreu porque o governo britânico está disposto a abrir o cofre e ampliar significativamente os gastos públicos, sobretudo em obras de infra-estrutura. É uma tentativa do conservador de movimentar a economia e garantir o voto conquistado em áreas que tradicionalmente eram dos trabalhistas.
A cotação da libra esterlina subiu bem em relação ao dólar e ao euro — contra o combalido real então nem se fala. Uma libra hoje vale quase R$ 5,70.
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