‘Pesquisas indicam que a terceira via não existe’, opina cientista político sobre as eleições de 2022

Paulo Baía ponderou que Ciro Gomes e Simone Tebet ainda podem surpreender, mas apostou na manutenção do cenário de polarização entre Lula e Bolsonaro

  • Por Jovem Pan
  • 27/07/2022 10h22
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Reprodução/Twitter/@SimoneTebetBr Candidatos se encontram em ato público Nomes da chamada terceira via, Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se encontraram durante ato em Salvador no dia 2 de julho

O MDB realiza nesta quarta-feira, 27, a convenção partidária que vai oficializar a indicação de Simone Tebet como candidata à presidência pela legenda. A convenção chegou a ser alvo de uma ação de membros do partido para ser suspensa. Para falar sobre as movimentações políticas da candidatura da chamada terceira via e também sobre o panorama geral das eleições de 2022, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o cientista político e sociólogo da UFRJ, Paulo Baía. O professor avaliou que as chances de uma candidatura romper com a polarização entre Lula e Bolsonaro são muito baixas: “As pesquisas todas que nós temos até agora indicam que a terceira via não existe. Mesmo com Ciro Gomes com uma pontuação boa, e Simone com uma quarta posição também boa”.

“Campanha eleitoral a gente não pode dizer com tanta antecedência o que vai acontecer. A campanha ainda não começou, vamos começar efetivamente no dia 15 de agosto. Portanto, a dinâmica da campanha pode trazer surpresas, como algumas eleições em anos passados. Nunca é bom comparar uma eleição com outra, mas tirar lições de eleições passadas é importante. Hoje, eu estou em sintonia com os meus colegas cientistas políticos: é muito difícil uma terceira via, a eleição está polarizada entre Jair Bolsonaro e Lula com condições de competitividade semelhantes. Mas nós não podemos descartar uma surpresa, como tivemos em 2018 quando Jair Bolsonaro também não estava à frente e despontou como candidato favorito”, especulou.

A respeito da convenção do MDB, Baía afirmou que acredita que a legenda vai sustentar a candidatura própria até o final, mesmo com apoios eventuais aos favoritos na corrida presidencial: “É difícil, oficialmente, o MDB descartar Simone. Temos nomes importantes, sobretudo do ex-presidente Michel Temer, que defendem a candidatura própria. Agora, a dinâmica política vai fazer com que o MDB, que inicia uma federação partidária, uma franquia, na prática se coligue informalmente com Lula em várias regiões e com Jair Bolsonaro em outras. Então, vamos ter um MDB que em 2018 foi destroçado na eleição, perdeu a maioria da bancada, está com muita dificuldade de reeleger uma bancada significativa e os seus vários grupos que são franqueados em cada estado vão, na prática política, apoiar, ou Lula, ou Jair Bolsonaro, e oficialmente terão a candidatura de Simone, como tiveram a de Henrique Meirelles, em 2018”.

O cientista político também elencou as diferenças entre o pleito atual em relação ao de 2018 e alertou para a possibilidade real de episódios de violência política durante a campanha: “Em 2022 temos uma eleição diferente de 2018. 2018 foi uma eleição disruptiva, absolutamente atípica e que está em estudo ainda, mas foi disruptiva. 2022 não é uma eleição disruptiva, é a continuidade de Jair Bolsonaro, que é um candidato muito forte, muito potente e que está muito bem posicionado nas pesquisas e vai ter essa potência aumentada a partir das atividades econômicas que vão crescer com a circulação de dinheiro com o aumento do Auxílio Brasil e da população que recebe o auxílio, com o auxílio aos caminhoneiros e aos taxistas e com a diminuição do ICMS dos combustíveis. Isso vai dar uma sensação muito favorável ao eleitor e o eleitor esquece os 3 ou 4 meses do passado. E em Luís Inácio Lula da Silva, há a estratégia de tentar ressuscitar o que foi a campanha de 2002, uma campanha de pacificação”.

“Quanto à questão da escalada de violência eu estou preocupado sim, eu acredito que a eleição de 2022 vai ser muito tensa e com atos isolados de violência política. Eu digo atos isolados porque não haverá uma concertação coletiva para que os dois blocos sejam violentos. Mais em um comício, reunião ou passeata você pode ter atos violentos e com mortes. Você tem, dos dois lados, tanto do lado de Jair Bolsonaro grupos aguerridos e muito violentos que pregam a prática da violência, como também temos em oposição a Bolsonaro grupos que acreditam na violência revolucionária como o PCO e anarquistas que atuaram bastante em 2013. Portanto, com essa verve de apoio ao confronto, em uma eleição de vida ou morte para Bolsonaro, ou Para Lula, podemos ter até casos grandes de violência antes do dia 2 de outubro”, projetou.

 

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