Pivô de demissão coletiva na Lava Jato em SP quis adiar operação contra Serra, relatam procuradores
Em documento encaminhado ao Conselho Superior do Ministério Público, os procuradores afirmam que Viviane Martinez vinha “criando obstáculos” ao avanço das investigações
Após uma debandada na Lava Jato de São Paulo, o vice-procurador-geral da República Humberto Jacques de Medeiros solicitou informações à procuradora natural do caso, Viviane de Oliveira Martinez. Ele quer que sejam tomadas providências para garantir a continuidade das investigações, equacionar o acervo e evitar prescrições. O vice-PGR classificou a saída da equipe como um “revés” para a operação. A procuradora foi o pivô do desligamento de sete integrantes da Lava Jato paulista. Em documento encaminhado ao Conselho Superior do Ministério Público, os procuradores afirmam que Viviane Martinez vinha “criando obstáculos” ao avanço das investigações.
Humberto Jacques de Medeiros disse que é função do Ministério Público Federal uma solução que impeça a descontinuidade dos trabalhos. Os procuradores que pediram exoneração afirmam que tentaram impedir o “processo de desmonte conduzido pela nova titular do 5º ofício e alegam incompatibilidades insolúveis”. Segundo o ofício, Viviane Martinez não demonstrou interesse em compreender quais as linhas de investigação que vinham sendo conduzidas. Ela teria retirado parte da estrutura de servidores que existia para auxiliar nos trabalhos da Lava Jato.
Os procuradores destacam que Martinez nunca participou de reuniões com advogados e com colaboradores, nem compareceu a uma única reunião com delegados de PF para tratar de casos da Lava Jato. Também afirmam que ela nunca se preocupou em assumir um único caso sequer da operação, dizendo que “não faria parte da força-tarefa”. De acordo com eles, ela propôs a “vedação” de novas investigações, inclusive acordos de delação premiada. Os procuradores ainda dizem que Viviane Martinez pediu, em um e-mail do dia 12 de junho, que fosse adiada a Operação Revoada contra o senador José Serra (PSDB), que ocorreu no dia 3 de julho.
As recentes mudanças na Lava Jato também repercutem no Congresso Nacional. Em entrevista à Jovem Pan, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) criticou a operação. “Agora, o combate à corrupção não pode ter desvios e abusos. E a Lava Jato, perincipalmente, cometeu muitos erros, desvios e abusos”, disse. Já o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) falou sobre os legados da operação e afirmou que membros do Judiciário e do Ministério Público puseram por terra todo o avanço conquistado pela Lava Jato. “A redução da sua atuação ela só atende a um público muito específico, os criminosos do Brasil. Os criminosos de colarinho branco que se acostumaram por décadas a roubar o dinheiro público e a continuar na impunidade. Esta turma que está atuando de forma muita intensa e coordenada em Brasília para reduzir e acabar com os resultados que a Lava Jato gerou para o Brasil.”
*Com informações do repórter Afonso Marangoni
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