Prazo de transição do Brexit se aproxima enquanto Reino Unido e UE continuam sem acordo

Com a retomada do lockdown em diversas regiões, timing do divórcio europeu não poderia ser pior

  • Por Ulisses Neto/Jovem Pan
  • 16/10/2020 07h34 - Atualizado em 16/10/2020 10h03
EFE/EPA/NEIL HALL Diante do impasse, Boris Johnson deve decidir amanhã se abandona de vez as negociações

O governo britânico deu um ultimato. E a União Europeia respondeu com um ultimato em dobro. Como tudo que envolve o Brexit, as últimas cenas deste processo que tem ares de folhetim também estão sendo muito confusas. Os líderes do bloco europeu se reuniram na quinta-feira (15) e havia expectativa no Reino Unido de que fosse feito algum aceno para o acordo comercial pós-divórcio. Ledo engano. Os europeus não se intimidaram com as ameaças de Londres em relação a abandonar as negociações neste mês.

O presidente da França, Emmanuel Macron, deixou claro que cabe ao Reino Unido aceitar os termos da União Europeia. E não o contrário. As negociações para um acordo comercial se arrastam há vários meses e já deveriam estar concluídas. O prazo de transição do Brexit termina em 31 de dezembro e, a partir de 1º de janeiro de 2021, essa história toda estará encerrada. Mas, para evitar transtornos no Canal da Mancha e a livre circulação de mercadorias e serviços, o acordo comercial é considerado essencial. Um dos principais pontos de impasse são as cotas de pesca em águas britânicas.

A Europa quer manter as regras como estão — que permitem atuação dos barcos europeus, sobretudo os franceses, do lado de cá. O Reino Unido, por sua vez, segue firme no direito de fechar suas águas e controlar a pesca de bacalhau, que é uma indústria forte. Diante do impasse, Boris Johnson deve decidir amanhã se abandona de vez as negociações e leva o divórcio quase que litigioso adiante. Em meio a pandemia de Covid-19 e às fragilidades econômicas trazidas pela quarentena, o continente ainda precisa lidar com este interminável processo.

O timing do Brexit não poderia ser pior. Com a retomada do lockdown em diversas regiões os governos estão carregando os subsídios estatais para manter a atividade econômica. E o cenário que se desenha do divórcio sem livre comércio vai exigir ainda mais ajuda estatal para diversos setores. Só que a munição, entenda-se recursos públicos, não é infinita. Uma coisa é certa — a separação sem acordo é ruim para os dois lados. Mas somente um deles vai ficar sozinho depois do Brexit.

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