Precisamos parar de ‘mitar’ ou lacrar’: coordenador do MBL critica momento ‘infantilizado’ e ‘espetacularizado’ da política
O coordenador nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), Renan Santos, criticou o que chama de postura “infantilizada” e “espetacularizada” no cenário político atual do Brasil. Em entrevista ao Jornal da Manhã desta segunda-feira (29), ele assume a culpa do movimento na polarização do país ressalta que a agressividade no debate não leva a lugar nenhum.
“Eu não sou contrário a polarização. A ideia de ter enfrentamento com quem pensa diferente de você é normal, natural da democracia, mas sou contrário a polarização com fim em si própria. Atualmente, o que está acontecendo é que um lado ‘lacra’, o outro ‘mita’. E enquanto um ‘mita’ e o outro ‘lacra’, quem está no meio fica perdido. Isso é ruim pro debate, que começou a ficar infantilizado, espetacularizado, pessoas não estão sendo razoáveis”, comentou.
Segundo ele, grande parte das pessoas e agentes públicos estão presos na linha da agressividade, algo que começou e foi impulsionado pelo próprio MBL, na época do pedido de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. “Na época do processo de impeachment, nosso nascimento, a gente já nasceu tomando porrada. Se não reagíssemos, talvez o processo não tivesse sido levado como foi levado. Lembro que o Kim [Kataguiri] mal tinha feito seu primeiro discurso e, no mesmo dia, Jean Willys e [Guilherme] Boulos já estavam em programa falando que ele era apenas um moleque de 19 anos que não sabia de nada. Então, num primeiro momento, não velho falha na nossa agressividade”, afirmou.
“O que vejo é depois disso, do impeachment. Não só da nossa parte, mas de diversos agentes públicos. A necessidade de tornar tudo urgente, agressivo, se tornou uma ferramenta para ganhar espaço, poder político e até dinheiro, em caso de vídeos do Youtube. Você faz uma crítica e a pessoa te retruca em um vídeo com argumentos simplistas. Isso torna tudo irrazoável. A gente entende esse mecanismo, sabe como opera, porque também já o usamos de forma idiota várias vezes”, explica.
Santos lembra um vídeo que o MBL fez em apoio da Lava Jato: “Nada contra, mas no que esse vídeo vai mudar o trabalho da Lava Jato? Em nada. A gente perdia tempo”, critica.
E agora?
Para o coordenador do movimento, a hora, agora, é de “olhar para a base” e trabalhar fora da “guerra”. “Quando estávamos dentro desse debate agressivo, a gente se afastou de ações políticos concretas para participar do que a gente chama de guerra de narrativa, que é importante no debate público, mas não é a essência do nosso trabalho.”
“A gente estava obedecendo uma lógica das redes sociais que começou a ser utilizada também por outros agentes, que é a de espetacularizar e infantilizar o debate. A gente viu que precisa sair desse caminho, então o caminho do MBL, hoje, é mais de educar o debate público, ou seja, trazer mais informação para quem nos segue do que aumentar esse clima de guerra. Estamos em 250 cidades, precisamos olhar para a base, o trabalho mais bonito que fazemos é nos municípios, quando impedimos a aprovação de um projeto de lei idiota”, disse.
Tem solução?
Questionado sobre como parar essa polarização, Santos respondeu que essa é a “pergunta de um bilhão de dólares no mundo inteiro”, mas apontou que o diálogo pode ajudar. “Se a gente falar ok, fui injusto com muitas pessoas diversas vezes, também fui vítima de injustiça, e estou a fim de conversar, de dialogar… Não de abdicar os próprios valores, mas vamos trocar ideia sem ‘mitar’ ou ‘lacrar?’ Para criar um debate mais civilizado, temos que lembrar que o outro deve existir mesmo que você discorde, que o diferente é necessário para gente poder se afirmar”, finalizou.
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