Rara, ‘doença da urina preta’ intriga especialistas e autoridades após caso em Goiás

Especialistas acreditam que a síndrome de Haff seja causada por uma toxina encontrada em determinados peixes de água doce ou crustáceos

  • Por Jovem Pan
  • 25/07/2021 10h24
Giovanna Gomes/Unsplash comida japonesa Alguns médicos dizem que a toxina é gerada pelo mau acondicionamento do pescado; outros que vem de algas consumidas pelo animal

Kelly Silva, de 27 anos, foi comer com a prima num restaurante japonês em Goianésia, no interior de Goiás. Quase 24 horas depois, ela se queixou de enjoo que evoluiu para cansaço e perda da força muscular. Ela também notou uma mudança na cor da urina. Ana Carla Viera, prima de Kelly, conta que, dois dias depois, os sintomas pioraram. Ela foi levada ao hospital, ficou 20 dias na UTI e chegou a ser intubada. “Ela já chegou lá grave, sem força muscular, já chegou com a função renal alterada, os rins já não estavam funcionando direito mais, pressão muito baixa. E a gente não sabia o que era até o momento. Mas, pela gravidade, optamos por transferi-la para Goiânia. Chegando lá ela piorou e foi para a UTI.”  Kelly foi diagnosticada com a doença de Haff, uma síndrome rara conhecida popularmente como “doença da urina preta”.

Especialistas acreditam que ela seja causada por uma toxina encontrada em determinados peixes de água doce ou crustáceos. Depois que o animal é ingerido, cru ou cozido, a substância pode provocar danos no sistema muscular e em órgãos, como os rins, alterando a cor da urina. A forma como o animal é contaminado pela toxina que provoca a doença, no entanto, não é consenso entre especialistas. Alguns infectologistas dizem que a toxina é gerada pelo mau acondicionamento do pescado, mas outros afirmam que ela vem de algas consumidas pelo animal. A delegada Ana Carolina Pedrotti, que investiga o caso, disse que ainda há muitas perguntas sem resposta. “O único caso aqui em Goianésia dessa síndrome foi com ela. Então, mesmo todo mundo comendo peixes, o mesmo peixe, mesmo corte, só ela que acabou tendo essa síndrome. Mas estamos apurando as condições de acondicionamento do restaurante.”

Segundo a infectologista Ana Raquel Rodrigues, a doença aparece quando os alimentos são transportados e armazenados de forma incorreta. Ela alerta sobre uma dificuldade para se proteger: a toxina não tem gosto, nem cheiro específicos. “Nem todos que se expõem ao agente infeccioso, neste caso é uma toxina, desenvolve a doença. Isso depende da suscetibilidade individual, fatores genéticos, o momento do estado imunológico do paciente, do estado emocional. Isso pode variar, um desenvolver e outro não.” Os sintomas mais comuns, segundo a médica, são: dor e rigidez muscular, dormência e urina escura — semelhante à cor do café. Ela diz que não há um tratamento especifico para a doença, por isso só é possível tratar os sintomas.

*Com informações da repórter Caterina Achutti

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