Reino Unido estuda flexibilização do isolamento com cautela por temer segunda onda de contágio

  • Por Ulisses Neto/Jovem Pan
  • 05/05/2020 07h00 - Atualizado em 05/05/2020 09h07
EFE/EPA/WILL OLIVER Além de proteger vidas, o país pode não ter condições de disparar um segundo tiro de canhão financeiro para proteger a economia

A quarentena ainda não tem data específica para acabar no Reino Unido. O país entrou em sua sétima semana de isolamento e o primeiro-ministro Boris Johnson promete anunciar novas medidas no próximo domingo (10).

A tendência é que a a Grã Bretanha siga os passos de outros países europeus, como Itália e Espanha, que começam a relaxar as regras. Mas tudo com bastante cuidado para evitar que uma segunda onda de contaminações ocorra.

Como o próprio governo conservador britânico reconhece, o país não teria condições de arcar com um novo crescimento de casos neste momento. E dá para entender a preocupação — que não se restringe à saúde pública, mas também alcança uma questão estratégica da economia.

O governo do Reino Unido adotou a cartilha que qualquer administração razoável está seguindo nesta pandemia: tentou salvar vidas e proteger empregos para poder superar este momento de crise o mais rápido possível.

A situação parece dentro de algum controle nos hospitais britânicos agora, tanto que os conservadores decidiram fechar os hospitais de campanha. O esquema montado aqui em Londres com cerca de 4 mil leitos já está sendo desativado e encerrará as atividades no próximo dia 15.

O hospital montado em um centro de convenções não chegou a ser peça-chave nesta crise e até foi criticado por alguns especialistas. A unidade de campanha teria sido mais um exercício de propaganda política que uma ferramenta eficaz para pacientes da covid-19.

Mas é difícil julgar a iniciativa agora, considerando que pouco se sabia sobre a pandemia um mês atrás quando o hospital foi aberto.

Economia

No campo da economia, o programa anunciado pelos britânicos para proteger empregos tem se mostrado muito mais eficaz. Na prática, os conservadores estatizaram o mercado de trabalho e decidiram bancar salários para evitar desemprego em massa.

Dados divulgados na segunda (4) mostram que um quarto de toda a força de trabalho britânico está sendo sustentada neste momento pelo governo. O esquema permite que empregadores, ao invés de demitir funcionários neste momento, transfiram o pagamento de salários para o Estado.

O dinheiro público banca até 80% do rendimento dos trabalhadores dentro do limite de até 2.500 libras por mês — ou mais de R$ 17 mil. O esquema está programado para durar até o final de junho, mas o governo já sofre pressão para estender o programa.

A quantidade de empresas que pediram ajuda indica que até agora Johnson está conseguindo proteger o nível de emprego no país. Antes do coronavírus a taxa de desempregados na Grã Bretanha estava perto da sua mínima histórica em 4%.

O problema é o custo disso tudo. Caso o programa dure mesmo só três meses os cofres públicos vão desembolsar 39 bilhões de libras — ou quase R$ 270 bilhões só pagando salários para quem foi atingido pelo coronavírus.

E é por isso que o país está demonstrando extrema cautela em flexibilizar a quarentena, agora que o pior parece já ter ficado para trás. Além de proteger vidas, o país pode não ter condições de disparar um segundo tiro de canhão desses para proteger a economia.

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