Saída negociada para crise na Ucrânia vai consolidar liderança de Putin, avalia especialista
Com envio de tropas a regiões separatistas, presidente russo pressiona o país vizinho, que pode desistir de entrar para a Organização do Tratado do Atlântico Norte
O movimento de pressão da Rússia sobre a Ucrânia busca defender os russos de uma possível ameaça. A avaliação é do professor e coordenador do curso de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, José Souza. Segundo ele, a movimentação comandada por Vladimir Putin é uma “demonstração de meios materiais para certos fins”. “Putin faz esse movimento já há anos para se livrar ou pelos menos tentar se livrar de uma ameaça que ele percebe, que é a expansão da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]. Todo aparato de guerra mobilizado não necessariamente vai ser usado, vai ser colocado em prática. No meu entendimento, é justamente uma tentativa de levar para mesa de negociação pelo menos algum tipo de garantia sobre o avanço da Otan”, explicou ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News. “Putin, definitivamente, está querendo se impor frente à Europa e frente ao mundo. É mais um episódio da Rússia se mostrando como um player importante”, completou.
José Souza também mencionou que as movimentações do presidente russo também buscam garantir a situação econômica da Rússia e, por isso, são precisas, estratégicas e calculadas. Nesse sentido, o professor disse que até as sanções anunciadas por diversas nações, como Alemanha, Japão, Reino Unido, Ucrânia e Estados Unidos, por exemplo, já eram esperadas. “As sanções são recorrentes, a gente discute sempre o grau de sanção, dependendo do tipo de crise gerada. Mas se sanciona a Rússia até que ponto? Até o ponto de que se precisa da Rússia. As sanções em relação ao país vão até o limite que a Europa, a Alemanha por exemplo, necessita da Rússia. Uma preocupação estratégica do Putin foi se estruturar minimamente, porque ele sabia que quando fizesse qualquer movimento haveria um conjunto de sanções.”
“Se vê até que ponto cada um pode levar essas tensões. Isso tem um limite. Talvez nos próximos dias a gente possa atingir esse limite para que chegue à mesa de negociação”, acrescentou. Ainda a respeito das possíveis tratativas entre os países, José Souza explicou que, após as tensões das últimas semanas, a Ucrânia começa a perder o interesse em fazer parte da Otan, enquanto a Rússia consolida sua liderança, o que pode trazer o triunfo a Vladimir Putin. “Nem a Ucrânia quer fazer parte mais da Otan, porque os custos se provam cada vez maiores. Então uma saída negociada realmente consolida um episódio de liderança do Putin, principalmente no leste europeu. Cada vez mais a Europa vai ter que negociar com a Rússia, não em pé de igualdade, mas a Europa não domina mais a Rússia.”
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