Salles associa enchentes em grandes cidades a abandono de políticas urbanas
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse nesta quarta-feira (12) que as enchentes registradas recentemente nos grandes centros urbanos do país, em especial na capital paulista, são fruto do abandono do que chamou de “política ambiental urbana”.
A declaração foi dada durante o Seminário de Abertura do Legislativo de 2020 — promovido pelo Grupo Voto, em Brasília.
Ricardo Salles defendeu a aprovação do novo marco do saneamento, que vai viabilizar investimentos privados no setor. A iniciativa, de acordo com ele, vai contribuir com a diminuição das enchentes nos grandes centros do país.
“Precisa ter um marco regulatório convidativo ao setor privado, que traga investimentos e previsibilidade. Com isso melhoramos o tema saneamento, que é o principal tópico da agenda ambiental urbana.”
Durante o discurso, o ministro lembrou que o governo tem um plano de aumento de áreas verdes no perímetro urbano, o que pode ajudar a reduzir os efeitos das chuvas intensas e prolongadas. A ideia é construir praças e definir áreas de vegetação para garantir não só uma maior permeabilidade do solo mas também diminuir a temperatura nesses ambientes.
Especialistas ouvidos pela Jovem Pan são unânimes em afirmar que as ações para conter as enchentes têm sido paliativas. Obras como piscinões e canalização de córregos, consideradas de longo prazo, ajudam a reduzir o impacto das cheias.
O geólogo do IPT, Fabrício Mirandóla, avalia que o desafio é evitar os prejuízos nas construções mais próximas aos rios. “No caso de São Paulo, hoje nós temos grandes industrias, grandes moradias e as principais vias implantadas às margens dos rios. Elas sempre vão ser atingidas por água porque a inundação é um processo natural, que pode ser aumentado pelo homem.”
Fabrício lembra que a macro e micro drenagem, o desassoreamento e os piscinões são ações básicas contra enchentes. O engenheiro Antonio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp, ressalta que o desafio é a longo prazo.
“Soluções existem. Soluções seriam, por exemplo, aumentar a vazão dos rios. Com isso, teríamos que sacrificar as marginais aumentando a calha do rio. Só que com isso impactamos o transporte. Tem que ser pensado a longo prazo.”
Antonio Carlos Zuffo explica que o maior desafio não é a chuva típica de verão, mas a precipitação que, apesar de fraca, dura muitas horas. De acordo com o arquiteto de trânsito Flamínio Fishman, existem obras viárias que poderiam amenizar os problemas.
“Antes da gente solucionar o problema dos rios, precisaríamos aumentar a permeabilização nas vias publicas com calçadas verdes, canteiros centrais, parques, jardins. Essa área drenante pega toda a chuva, que vai para o subsolo e é filtrada.”
O arquiteto Flamínio Fishman lembra que qualquer município precisa de um plano permanente de zeladoria.
A chuva que atingiu São Paulo no início da semana foi equivalente a metade das precipitações esperadas para todo o mês de fevereiro.
*Com informações da repórter Camila Yunes
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