Saudade e luto marcam seis meses do rompimento da barragem em Brumadinho

  • Por Jovem Pan
  • 25/07/2019 10h30 - Atualizado em 25/07/2019 11h44
Cadu Rolim/Estadão Conteúdo Números da Secretaria Municipal de Saúde denunciam saúde mental de sobreviventes e familiares das vítimas

Seis meses após o rompimento da barragem em Brumadinho, a lembrança da tragédia ainda tira o sono de quem lida com o luto e de sobreviventes que enfrentam a memória do caos.

Para a família Ferreira Passos, o sofrimento se materializou de uma única vez de diferentes formas. A matriarca, dona Neiva, é mãe de sete filhos, e perdeu na tragédia a filha Jussara, de 35 anos.

Jussara era camareira e estava trabalhando na Pousada Nova Estância no instante que o local foi destruído pela avalanche de lama. Neiva lembra que a filha ra a alegria da família. “A Jussara era muito festeira. Ela sozinha fazia uma festa.”

No mesmo momento, outro filho de dona Neiva, Washington Luciano, estava trabalhando na estação de tratamento de minério da Vale quando um mar de rejeitos atingiu em cheio o local. Washigton é um dos 192 sobreviventes. Ele escapou e, em seguida, tossindo muito e cuspindo sangue, ligou para mãe.

Washigton Luciano é encarregado em uma terceirizada da Vale e monta estruturas para obras. Ele conta que tinha acabado de almoçar com os colegas e voltava a trabalhar em cima de um andaime quando a Mina se rompeu.

“Quando eu vi a lama batendo eu já olhei para o outro lado e vi uma onda maior. Quando bateu na estrutura que eu tava eu bati o peito. Eu abracei um amigo e nos abraçamos na estrutura. Estava um barulho infernal, bastante poeira.”

Washigton e seus colegas esperaram a lama abaixar para sair do local. O filho de dona Neiva se arrastou pela lama e esperou por mais de duas horas até a chegada do resgate.

Jussara morava no Córrego do Feijão com o marido e filho Caique, de 12 anos. A avó agora ajuda a criar o neto. “Ele ta fazendo tratamento, a gente conversa naturalmente.”

Neiva, dois filhos, o neto e o marido moram em um pequeno sítio na beira do Rio Paraopeba, contaminado pelos rejeitos. A família agora depende da água enviada pela Vale.

“Eu estou do dia 25 de janeiro até hoje. Eu não tenho água, a minha cisterna foi condenada e eles não vieram aqui nem para olhar. Só falaram que eu não posso usar nem comer nada do terreno.”

Pilar da família, Neiva afirma que com as responsabilidades que tem não pode se permitir ser levada pelo luto. “Eu não tive tempo de chorar, de me derramar, até hoje. Depois do dia 25 de janeiro a luta só foi aumentando.”

Para Washigton, a melhor forma de superar a tragédia é tentar evitar as memórias. Ele tem tomado antidepressivos, remédios para dormir e faz acompanhamento com psicólogos.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Brumadinho, ao todo a cidade chegou a ter um aumento de 80% no uso de ansiolítico e de 60% no uso de antidepressivos. O município ainda registra um aumento de casos de infecções respiratória agudas e doenças de pele por exposição a poeira e lama nos locais afetados.

*Com informações da repórter Victoria Abel

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