Sem resposta do governo, paralisação de servidores pode virar greve geral em fevereiro, afirma presidente do Fonacate
Rudinei Marques afirmou que, após a mobilização do dia 18, podem ocorrer outras duas em 25 e 26 de janeiro; se não houver negociação por reajuste salarial, situação tende a piorar no mês seguinte
O Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que representa mais de 30 associações de servidores, anunciou, na última quarta-feira, 29, uma paralisação de servidores públicos federais por reajuste salarial em janeiro de 2022. De acordo com o documento, a primeira paralisação ocorrerá no dia 18 de janeiro. Em entrevista ao vivo para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, nesta quinta, o presidente da instituição, Rudinei Marques, falou como as mobilizações deverão ocorrer. Ele destacou a programação de paralisações, informando que, caso o governo Bolsonaro não faça propostas de reajuste salarial para a categoria após a mobilização do dia 18, poderá haver mais uma paralisação nos dias 25 e 26 e até uma greve geral em fevereiro. “Nós não queremos paralisar, não queremos fazer greve, não queremos prejudicar a sociedade. Ao contrário, a gente quer a recomposição para que nós possamos continuar entregando o melhor, que nós sempre entregamos, para que a sociedade tenha bons serviços públicos”, destacou Marques.
“[As nossas] estratégias [para pressionar o governo] já estão sendo adotadas por algumas entidades. Vimos, nesta semana, os chefes da Receita Federal entregarem seus cargos, um movimento semelhante está sendo feito no Banco Central, no Tesouro Nacional, na CGU. Nós estamos conversando com aqueles que têm cargos em comissão, mostrando a importância deles também fazerem esse gesto simbólico de dizerem que querem essa unidade de tratamento. Nós sabemos que os policiais tiveram assegurado um percentual de reposição. Eles também estão com salários congelados nesse período e a luta deles também é legítima. Mas nós temos que observar que 1,1 milhão de servidores federais também estão com seus salários congelados. Vamos fazer esse movimento, que está começando agora, com essas entregas de cargos. Já tem algumas entidades, como os auditores fiscais agropecuários, que já estão parando. A própria Receita está parando. Esse movimento tende a se intensificar. É claro que nós temos que cumprir todas as formalidades legais para a deflagração de uma greve, se for o caso. Nós temos que comunicar as autoridades, demonstrar em juízo que as negociações foram frustradas, chamar as assembleias mediante publicação no Diario Oficial e, só assim, com votação em assembleia das categorias, cada uma tem que fazer a sua, a gente pode, então, começar esse movimento que está programado para ter um primeiro dia nacional de paralisação em 18 de janeiro. Se não houver nenhuma resposta do governo, ele tende a se intensificar para dois dias de paralisação, em 25 e 26. E, nas primeiras semanas de fevereiro, se o governo continuar nessa postura de não querer dialogar com os servidores, que é isso que nós estamos vendo, por meio do contato que tivemos com o Ministério da Economia, a tendência é que nós fiquemos para uma greve geral”, explicou o presidente do Fonacate.
Segundo Marques, os salários dos servidores públicos federais estão congelados desde 2017, com uma perda real, diante da inflação, de quase um quarto do salário. “Nós, falando em nome dos servidores públicos federais, constatamos que a última reposição para grande parte do funcionalismo foi no início de 2017. Desde então, a inflação, medida pelo IPCA, já atingiu 27,2%, ou seja, mais de um quarto dos salários já foram corroídos, e nós não temos nenhuma sinalização do governo de que haverá uma recomposição linear geral para o funcionalismo civil. Já houve uma reposição geral para os militares, no início do governo, mas os servidores civis estão aguardando um índice a ser proposto pelo governo Bolsonaro, que se não o fizer será o único nos últimos 20 anos a não conceder nenhuma reposição salarial ao funcionalismo”, pontuou.
“Estamos vendo o ministro Paulo Guedes falar de uma retomada da economia, prometida há muito tempo, e estamos esperando que o Brasil retome o caminho do desenvolvimento. Mas ele não vai sair dessa crise econômica e fiscal sem dinheiro no bolso do trabalhador. Isso que nós estamos vendo desde a reforma trabalhista, que é a precarização máxima das relações de trabalho, o aviltamento salarial na iniciativa privada, que agora pende também para o serviço público, ele não ajuda o país. Nós sabemos que o dinheiro no bolso do trabalhador tem um efeito multiplicador. É isso que movimenta, que aquece a economia, que faz girar a roda da economia. Nós sabemos que existe uma diferença [entre o nível salarial dos servidores federais e a massa trabalhadora brasileira], mas estamos lutando não só para recomposição salarial dos serviço público, mas também para os trabalhadores em iniciativa privada. Veja que nós temos hoje 70 milhões de brasileiros no desemprego, no desalento e na informalidade. Isso não ajuda o país, pelo contrário, isso é um atraso para a economia nacional. E as perdas [salariais] podem se estender para além do governo Bolsonaro, porque a lei complementar 173 inviabilizou as negociações anuais que extrapolam o mandato do atual governante. Ou seja, se nós não negociarmos agora nós não o faremos em 2022 e vamos ter que sentar no próximo governo, em 2023, para quiçá ter uma negociação para 2024. Quem aguenta sete anos de congelamento salarial? Por isso nós estamos com disposição de dialogar com o governo. Nós não estamos pedindo aumento, nós estamos querendo apenas que os salários deixem de ter perdas reais, que é o que, de fato, aconteceu de 2017 até aqui. Quase 30%. E essas perdas poderão chegar a 50% se não forem negociadas agora o salário do funcionalismo. Não queremos um reajuste real, queremos simplesmente estancar as perdas, o que todo trabalhador tem direito de fazer. O governo tem que chegar para nós e dizer o percentual que tem condições de dar para evitar uma corrosão ainda maior”, finalizou.
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