‘Sempre respeitei o MBL’, diz Moro ao pedir desculpas por supostas mensagens
Após novas divulgações de supostos diálogos entre Sergio Moro e procuradores da Operação Lava Jato, o ministro da Justiça e Segurança Pública desistiu de ir à Câmara dos Deputados na próxima quarta-feira (26). Ele cancelou a visita e não propôs uma nova data.
Neste domingo (23), novos trechos foram publicados pelo The Intercept Brasil em parceria com o jornal Folha de São Paulo. Em outro diálogo atribuído a Moro e Dallagnol, o então juiz federal pedia ajuda do procurador para conter um protesto do Movimento Brasil Livre (MBL), que estava na frente do apartamento do ministro Teori Zavascki, então relator da Lava Jato no Supremo.
Com faixas e cartazes, eles pediam que Teori deixasse “Moro trabalhar”. Na mensagem, o ministro questionou se os procuradores tinham algum contato com o MBL.
De acordo com ele, “alguns tontos daquele movimento” foram “fazer protesto na frente do condomínio do ministro”. Moro teria declarado que “isso não ajuda, evidentemente”, ao que Dallagnol respodndeu que ia procurar saber, mas observou que talvez fosse melhor não fazer nada.
Após a revelação das mensagens, o ministro se manifestou. Em um áudio enviado ao MBL, Moro diz não saber se usou o termo “tontos”, mas pede desculpas. “Eu achei que esse protesto, na época, era um tanto quanto inconveniente. O ministro Teori Zavascki era boa gente, uma pessoa séria e a realização daquele protesto poderia chegar a uma animosidade do Supremo contra a 13ª Vara, o que não era desejado”, explicou.
Apesar do pedido de desculpas, o ministro voltou a dizer que não sabe se realmente falou aquilo. “Consta ali um termo que não sei se usei mesmo, acredito que não, pode ter sido adulterado. Mas queria pedir desculpas se eu eventualmente utilizei, porque sempre respeitei o MBL e sempre agradeci o apoio que esse movimento deu”, continuou.
No áudio, o ex-juiz ainda sustentou que as mensagens foram obtidas de maneira criminosa por um hacker.
Moro “chateado”
Em outro conteúdo, procuradores da força-tarefa da Lava Jato se articularam para evitar tensões entre Moro e o Supremo Tribunal Federal (STF) durante um momento crítico da operação em 2016.
A divulgação equivocada de papéis encontrados pela Polícia Federal na casa de um executivo da Odebrecht poderia colocar Moro em uma saia justa com o Supremo, já que iria expor políticos que tinham direito a foro privilegiado e só poderiam ser investigados com autorização da Corte.
Os supostos diálogos sugerem que o incidente foi causado por descuido da PF, quando anexou arquivos ao processo sem preservar o sigilo, o que permitiu a divulgação do material pelo jornalista Fernando Rodrigues.
O episódio deixou Moro contrariado por criar novo foco de atrito com o STF um dia depois do então juiz ser repreendido pela Corte por causa da divulgação de escutas telefônicas do ex-presidente Lula.
Nas mensagens trocadas com Deltan Dallagnol, procurador que lidera a Lava Jato em Curitiba, Moro teria dito que era uma “tremenda bola nas costas da PF” e que a ação pareceria uma “afronta”. O conteúdo divulgado revela que, na época, Deltan procurou o delegado Márcio Anselmo, que chefiava as investigações sobre a Odebrecht, para dizer que “Moro estava chateado”.
*Com informações da repórter Marcella Lourenzetto
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