Sistema de governança europeu prevalece sobre propostas populistas de governo de coalizão da Itália
Nem sempre a eleição de populistas com ideias mirabolantes para a economia terminam em catástrofe.
Quer dizer, pelo menos não em países que estão submetidos a instituições fortes e que ainda tem algum nível de seriedade.
Vejam o caso da Itália. Alguns dias atrás eu comentava no Jornal da Manhã que o novo governo de coalizão do país, formado pelo Movimento Cinco Estrelas e pela Liga, havia decidido romper com a austeridade imposta pelos tecnocratas europeus.
O orçamento do país para o ano que vem prevê um déficit de 2,4% do PIB, ou nível três vezes maior que o projetado anteriormente.
A ideia é liberar o governo para gastar mais com programas sociais, incluindo o renda mínima de 780 euros por mês para os mais pobres e a redução da idade mínima para aposentadoria no país.
Acontece que a Itália já é o segundo país mais endividado da zona do euro, atrás apenas da Grécia. Por isso, os economistas do bloco viram a decisão como um risco para o euro e passaram a pressionar Roma.
Hoje, quem olhar os números positivos das bolsas por aqui e a valorização da moeda comum ante o dólar vai desconfiar que algo mudou.
E sim, a pressão da Comissão Europeia foi tão forte nos últimos dias que o governo de Roma já prevê mudanças no seu plano de gastança social.
Os 2,4% de déficit, que valeria para os próximos três anos, já foi reduzido para 2% em 2021.
O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, chegou a reconhecer nesta terça-feira (02) que é preciso acelerar o declínio da relação dívida-PIB do país.
Já tinha gente até falando que a Itália deveria deixar o euro e retomar a lira para não ter que se curvar às exigências do bloco.
Mas no final da contas, assim como na Grécia, o sistema de governança europeu prevaleceu sobre as propostas consideradas populistas dos novos governantes de Roma.
Onde há instituição e establishment de verdade é assim que funciona. O voto popular não necessariamente dita as regras.
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