Solidariedade e mobilização aliviam sofrimento em noites frias de quem vive nas ruas

Na Praça da Sé, voluntários distribuindo kits com cobertores, blusas, cachecóis, luvas e itens de higiene pessoal

  • 29/07/2021 06h46 - Atualizado em 29/07/2021 10h10
Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO - 28/07/2021 Pessoa em situação de rua Na estação Pedro II do Metrô, o governo do Estado montou um abrigo para 400 pessoas

Cobertores, agasalhos, sopa quente e solidariedade marcaram o primeiro dia da chegada da frente fria em São Paulo. Bruno Nunes está em situação de rua faz um ano. Em dias gelados como hoje, só com a ajuda de voluntários para driblar a fome e o frio. “Todo mundo morrendo de frio, todo molhado. Lógico que é importante, tem que ter. Estou passando frio, mas fome não passo porque às vezes chega doação, mas o frio é bastante. E é sofrimento, né?” Uma verdadeira operação de guerra no centro da cidade. Prefeitura, pastoral do povo da rua e Cruz Vermelha — todos juntos para auxiliar quem mal tem onde passar a noite. Na Praça da Sé, voluntários distribuindo kits com cobertores, blusas, cachecóis, luvas e itens de higiene pessoal. Para as crianças, só os brinquedos ajudavam a disfarçar a temperatura que não parava de cair. Com tantos precisando de ajuda, houve um tumulto e vários acabaram furando a fila.

Apesar do início de confusão, a gerente da Cruz Vermelha, Marina Calife, disse que tudo saiu como esperado. “Tinha muitas pessoas em necessidade, muitas vezes a gente não tem como controlar o comportamento. A gente teve um movimento ali, em que as pessoas pegaram os kits, mas a gente conseguiu acalmar, chamou a Defesa Civil para dar uma auxiliada. Eles estão ali e vão continuar distribuindo os mil kits que a gente trouxe.” Já era noite quando começou a distribuição de sopa a centenas de pessoas. A distribuição de cobertores e agasalhos é uma tentativa de minimizar o frio dessas pessoas. O principal desafio dos agentes da prece é tentar convencer quem vive na rua a ir para os abrigos. A secretária Municipal de Direitos Humanos, Claudia Carletto, afirma que só o diálogo resolve nessas horas. “Mais de 40% delas é por conta de rompimento. Então existe um rompimento de vínculo afetivo dessas pessoas com as suas casas. É difícil você reconstruir com elas que a casa é um local seguro. Elas se sentem seguras na rua — o que é um contrassenso.”

Na estação Pedro II do Metrô, o governo do Estado montou um abrigo para 400 pessoas. Colchões e cobertores foram colocados em uma área protegida do vento e da chuva. Quem chega recebe também um prato de comida. Voltado apenas para homens, a estrutura vai funcionar até dia 31. A secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, Célia Parnes, diz que a região tem uma grande população de rua. “Essa é uma localização aonde a grande circulação é de pessoas em situação de rua, estamos em uma localização próxima ao centro, 700 metros da Sé, e um local que há grande circulação de pessoas em situação de rua e que preferem ficar próximas de locais em que estão acostumadas.” Segundo o último censo da Prefeitura, a cidade tem cerca de 24 mil pessoas vivendo nas ruas, mas movimentos que auxiliam essa população dizem que esse número está defasado e aumentou muito na pandemia.

*Com informações da repórter Camila Yunes

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