Suspender “regra de ouro” é mudar a regra para não descumpri-la, diz economista
Bruno Lavieri, economista da 4E Consultoria, falou ao Jornal da Manhã deste sábado (06) sobre projeto na Câmara que visa a suspender a “regra de ouro”.
Basicamente, a regra impede o governo de emitir dívida em montante superior aos investimentos, ou seja, não deixa o governo se endividar.
Para Lavieri, a possível suspensão “seria uma mudança muito ruim”. “Novamente a gente muda a regra para não descumpri-la”, diz o economista, ressaltando que “a ‘regra de ouro’ só foi cumprida em 2016 e 2017 por fatores atípicos”.
“Em 2016, o Banco Central teve um lucro extraordinário com a depreciação do câmbio. Em 2017, só pôde cumprir (a regra de uro) com a devolução dos recursos do BNDES”, diz o economista. “(O governo) precisou menos do mercado para se financiar”.
“Em 2018, esse passa novamente a ser um problema de responsabilidade fiscal”, projeta.
Lavieri explica que é “difícil na prática” fiscalizar o cumprimento da “regra de ouro” porque o dinheiro “não tem carimbo”.
“O governo já fez isso no passado, quando aumentou a meta de superávit primário. São questões diferentes, mas não deixa de ser o mesmo artifício: o governo muda a regra quando não gosta dela”, criticou.
O economista criticou também Estados que descumprem restrições de endividamento já previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal, mas não respondem pelo descumprimento. “Ainda que as regras existam, existe espaço para debater o cumprimento delas”, disse. “O poder judiciário acaba intervindo até na direção de flexibilizar o cumprimento delas”.
Para Lavieri, “o mercado está sendo otimista no sentido de que o próximo governo vai conseguir puxar o freio de mão” dos gastos públicos. Ele entende, por sua vez, que essa questão ainda está “muito indefinida”. E lembra “o governo comemorou fechar 2017 dentro da meta, mas a meta é muito pouco ambiciosa”.
Ouça a entrevista completa:
Meirelles é contra fim da regra
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, declarou que é contra a suspensão da chamada “regra do ouro”.
Na saída de um evento evangélico, em Brasília, o ministro afirmou que não gosta da proposta de alguns parlamentares que pretende modificar essa regra.
Ele disse que não aprova, e que é necessário a criação de mecanismos autorreguláveis.
Meirelles declarou que esse não é um problema do governo Temer.
Durante o evento, o ministro Henrique Meirelles também fez um discurso para os fiéis e aproveitou para novamente defender a Reforma da Previdência.
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