“Temer fez mais do que eu imaginava”, declara FHC

  • Por Jovem Pan
  • 06/02/2018 08h44 - Atualizado em 06/02/2018 13h29
Rodrigo Ramon/Jovem Pan “Sei da impopularidade, mas não vai ter nunca uma popularidade por conta de seu nascimento [pós-impeachment] e suas circunstâncias [PMDB e seus arredores envolvidos em casos de corrupção]”, disse FHC

O Governo de Michel Temer foi recentemente reprovado, em avaliação do Datafolha, por 70% da população, enquanto sua aprovação atingiu apenas 6%. Além disso, ele sofre com dificuldades na base para conseguir os votos necessários para a aprovação da reforma da Previdência, que pode ficar para o próximo presidente, e tem problemas com ministros e casos de corrupção que atingem seu Governo e integrantes de sua equipe.

Em entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, entretanto, defendeu a parte reformista da gestão do emedebista. “Deixou de fazer [reforma da Previdência], mas quem fez tudo? Ninguém. A meu modo de sentir e entender, ele fez mais do que eu imaginava que pudesse fazer. Porque ele nasce do impeachment. Quem votou nele não foi quem o apoiou depois. Votou nele quem votou na Dilma. Ele tem fragilidade de base. Ele nunca foi líder popular e não é capaz de se dirigir às massas nacionais”, disse.

FHC acrescentou ainda que Temer tirou vantagem de seu “cacife” ao apostar em relações diretas com o Congresso: “foi presidente na Câmara, líder do PMDB, sabe manejar. E aí se jogou para fazer reformas. E fez. Reforma trabalhista, educacional, a mudança na questão de botar mais disciplina no gasto público”.

Apesar de reconhecer que isso não se traduz em popularidade, Fernando Henrique Cardoso admitiu que o atual presidente da República será reconhecido na história por sua agenda de reformas, mesmo que não se dê para apagar as condições das quais surgiu com mandatário da República.

“No olhar histórico, ele compreendeu o que poderia fazer. Não se arrogou a ser líder da nação, mas se arrogou ao dar certos passos em certas áreas”, acrescentou o tucano. “Sei da impopularidade, mas não vai ter nunca uma popularidade por conta de seu nascimento [pós-impeachment] e suas circunstâncias [PMDB e seus arredores envolvidos em casos de corrupção]”.

PSDB e o apoio às reformas

O Governo empunhou diversas bandeiras reformistas e nem sempre o PSDB esteve favorável a elas. “Sempre foi mais cauteloso, nunca foi propriamente reformista. No caso de Temer, o PSDB apoiou o impeachment e apoiou o Governo também. Acho lamentável que setores do PSDB não tenham apoiado medidas importantes como a da Previdência”, exemplificou.

Para o tucano, os partidos não são homogêneos e “são partidos que vão ganhar eleição e supõem que o eleitor é contra [determinada reforma]. Você quando é líder não é para ver com a maioria, líder tem que ter convicção. Falta no PSDB e em outros partidos. É preciso estar o tempo todo forçando para que as coisas caminhem”.

Corrupção “não foi do PSDB”

FHC é enfático: “corrupção sempre houve, mas aqui é outra coisa”. Para ele, foi constituído no País um “sistema de sustentação do poder a base de dinheiro público”, ao que ele enfatizou que “não foi o que o PSDB fez”.

“Em São Paulo, PSDB comanda há mais de 20 anos, não tem um tesoureiro do partido na cadeia, ou acusado de ter roubado, ou organizado uma máquina de tal maneira que as coisas estão ligadas entre o partido e a corrupção. As empresas e concessões. O que não quer dizer que pessoas do PSDB em outros lugares não tenham feito e participado, talvez aqui também, mas não teve esse caráter sistemático, que foi o que manchou outros partidos”, esclareceu.

Confira a entrevista completa com o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso:

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