Tragédia em Petrópolis aconteceu por falta de interesse político, afirma pesquisador da USP

Segundo Paulo Artaxo, havia recursos disponíveis para prevenir situações como a que ocorreu, mas não foram utilizados pela prefeitura

  • Por Jovem Pan
  • 17/02/2022 10h12 - Atualizado em 17/02/2022 10h18
CARL DE SOUZA / AFP Visão área do deslizamento de terra em Petrópolis Visão área do deslizamento de terra em Petrópolis

Especialistas afirmam que a tragédia ocorrida em Petrópolis, no Rio de Janeiro, por conta das fortes chuvas e consequentes deslizamentos e alagamentos, poderia ter sido evitada. Eles apontam que áreas de alto risco do município deveriam ter sido evacuadas dois dias antes, após um alerta ter sido emitido. Para comentar o tema e explicar o que houve, o professor titular do Instituto de Física da USP e vice-presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, Paulo Artaxo, concedeu uma entrevista ao vivo para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, nesta quinta-feira, 17. Segundo o pesquisador, a tragédia de Petrópolis ocorreu por falta de interesse político.

“Basicamente, sim, essas tragédias são evitáveis. O Rio de Janeiro é coberto por três radares meteorológicos que podem prever com razoável precisão a quantidade e intensidade de chuva e quando ela vai cair. A questão não é técnico-científica, mas nós termos governos a nível municipal, estadual e federal que realmente se preocupe com a população como um todo. Havia recursos disponíveis para fazer prevenção de tragédia como essa e esses recursos não foram utilizados pela prefeitura de Petrópolis. Uma situação muito anacrônica. Não é falta de recursos ou conhecimento técnico, mas, na verdade, falta de interesse político de minorar o sofrimento da parcela menos favorável da população brasileira”, afirmou Artaxo.

“O Brasil detém conhecimentos, do ponto de vista de escorregamentos de encostas, do ponto de vista geológico, que são muito bem desenvolvidos. Não é uma questão científica. É preciso investir. Primeiramente, não permitir populações que possam habitar áreas de risco iminentes. Se reflorestar as encostas, trabalhando na prevenção dos escorregamentos, isso funciona, isso já foi aplicado em várias regiões inclusive do Brasil. Mas é fundamental que haja interesse do poder público em ajudar a população menos favorecida”, continuo a crítica.

Segundo o professor, desde as tragédias ocorridas na região serrana do Rio de Janeiro em 2011 não houve melhorias significativas para evitar novas tragédias. “Os eventos climáticos extremos, intensificados pela mudança do clima que estamos observando, vão trazer prejuízos socioeconômicos enormes para o Brasil. E já estão trazendo atualmente, como nós observamos, pelas enchentes que tivemos na Bahia, em Minas Gerais, pelas secas no Brasil central e no Rio Grande do Sul, pelos escorregamentos que ocorreram em Taboão da Serra, em São Paulo, e, agora, em Petrópolis. Falta ao país a implementação de um plano de adaptação às mudanças climáticas. Elas já estão aqui, intensificando esses eventos. E isso, certamente, só vai intensificar ao longo das próximas décadas. O país tem que se preparar para um clima menos amistoso do que a gente tinha antes por causa do desmatamento da Amazônia e da queima de combustíveis fósseis, que estão mudando a clima global”, afirmou.

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