Um ano após desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, famílias ainda tentam seguir com suas vidas

Um desastre que chocou o Brasil, deixou mortos, desaparecidos e desabrigados

  • Por Jovem Pan
  • 01/05/2019 08h55 - Atualizado em 01/05/2019 10h14
Leon Rodrigues/SECOM Sete vidas se perderam, duas pessoas estão desaparecidas até hoje e centenas de pessoas ficaram desabrigadas

Há exatamente um ano, uma ferida se abria no coração de São Paulo. Na madrugada de 1º de maio de 2018, um incêndio e um desabamento destruíram o Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu. Um desastre que chocou o Brasil, deixou mortos, desaparecidos e desabrigados.

O centro de São Paulo mudou muito, mas ao mesmo tempo não mudou. Seja para as pessoas que conseguiram escapar do desastre, seja para o entorno dessa região da cidade.

Durante mais de uma semana, uma pilha de escombros ardia, enquanto os bombeiros e as equipes de perícia trabalhavam. Sete vidas se perderam, duas pessoas estão desaparecidas até hoje e centenas de pessoas ficaram desabrigadas. Muitas delas passaram mais de três meses num acampamento na frente da igreja católica de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

Foi o caso da auxiliar de limpeza Leofábia Rodrigues da Silva; sem conseguir pagar aluguéis, ela retornou a uma ocupação no começo deste ano.

O espaço, onde ficava um antigo cinema, fica em frente ao terreno onde estava o edifício Wilton Paes de Almeida. Leofábia lembra de dias muito difíceis durante aqueles três meses em que ficou na frente da igreja com várias outras pessoas.

Assim como no caso de Leofábia, a vida da auxiliar de necropsia Thabhatha Freire foi de uma ocupação para a outra.

Hoje, ela tem um quartinho na área que pertencia a um antigo hotel na própria avenida Rio Branco. Além de um destino semelhante, as duas compartilham uma preocupação. Há um ano, elas e outras pessoas recebem um auxílio-moradia da CDHU, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado.

No entanto, a Prefeitura de São Paulo disse em maio que assumiria esses pagamentos depois de um ano do desastre.

Com a chegada da data, Thabhatha se queixa da falta de critério na concessão desses benefícios.

O desastre transformou a vida de várias pessoas e também a existência de duas igrejas.

Situada bem ao lado do edifício Wilton Paes de Almeida, a Igreja Martin Luther, dos evangélicos luteranos, ainda está desfigurada. Hoje, ela mantém o trabalho de cultos e de assistência aos moradores de rua num espaço anexo ao prédio principal, que tem mais de cem anos.

O pastor Frederico Ludwig trabalha para reconstruir a estrutura, mas a congregação não tem todo o dinheiro.

No centro do largo, a igreja católica de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos também é um símbolo histórico. Ao longo de três meses, a capela ficou fechada, abarrotada de doações e com o acampamento do lado de fora.

A assistente social voluntária Sônia Pereira acompanhou todo o processo e convivia diariamente com os desabrigados. Passado um ano do desastre, ela afirma que o local ficou esquecido de novo assim que as barracas foram embora em 10 de agosto.

Pelo menos no âmbito da fiscalização houve um avanço. Recentemente, o Ministério Público de São Paulo entrou com as primeiras 12 ações judiciais demandando reformas em ocupações a fim de evitar novas tragédias.

A iniciativa é resultado da análise de um grupo de trabalho formado na época do desastre que reuniu o poder público, os movimentos de moradia e a sociedade civil.

O promotor Roberto Luiz de Oliveira Pimentel diz que as principais adequações a serem tomadas estão no campo de prevenção a incêndios.

A polícia responsabilizou criminalmente três coordenadores do Movimento de Luta Social por Moradia pela tragédia que tirou sete vidas e deixou dois desaparecidos. Nireudes de Jesus Oliveira, Hamilton Coelho dos Santos e Ananias Pereira dos Santos respondem em liberdade por não terem tomado medidas para evitar o incêndio.

De volta à ocupação da avenida Rio Branco, Leofábia lembra de uma amiga de quem até agora não conseguiu se despedir. O corpo da ajudante de serviços gerais Eva Barbosa da Silveira não foi encontrado até hoje.

A reportagem pediu entrevistas no fim da semana passada com os secretários municipais de segurança urbana, habitação e assistência social de São Paulo. Não houve resposta da Prefeitura até o fechamento desta matéria.

*Informações do repórter Tiago Muniz

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