Um ano depois, luto persiste entre moradores de Brumadinho

  • Por Jovem Pan
  • 24/01/2020 06h30 - Atualizado em 24/01/2020 08h16
EFE Barragem em Brumadinho se rompeu há um ano

A dona Malvina, de 62 anos, luta para aceitar a perda do filho Peterson, que morreu após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Ela não consegue pronunciar o nome do filho sem chorar e mostra a quantidade de remédios que toma.

“Na hora de comer eu tomo dois, e mais dois a tarde. Mas não é todo dia que eu consigo comer. Tem vezes que fico três dias sem comida. Tem o que eu tomo a noite, na hora de dormir, e um outro, três vezes ao dia.”

Ela conta que tem uma sensação de impunidade após o desastre.“Eu só espero justiça, espero a prisão. Acho que eles não vão ser presos. Preso tá quem morreu. Os colarinhos brancos ficam soltos.”

Na última terça-feira, o Ministério Público de Minas denunciou o ex-presidente da Vale, Fábio Schavartsman, e mais 15 pessoas por homicídio doloso qualificado e crimes ambientais.

Talita Oliveira, de 16 anos, ainda carrega as cicatrizes do dia em que foi resgatada do meio da lama de rejeitos.

“Aquela imagem sempre vem na minha cabeça, deles tentando me tirar da lama. Eu achava que não conseguia sair dali, que ia morrer. Os médicos chegaram a falar – não na hora, mas depois -, que eu saí da lama viva para morrer do hospital. Meu caso era muito extremo.”

Ela ficou internada por seis meses, toma 20 medicamentos todos os dias e ainda depende de muletas para andar. Talita passa por dolorosas sessões de fisioterapia e espera, no futuro, poder andar normalmente e não precisar de tantos remédios.

Duzentas e 70 pessoas morreram no desastre. Onze continuam desaparecidas. Uma delas é Lecilda de Oliveira, que trabalhava no escritório de recursos humanos da Vale.

A irmã, Natália, ainda aguarda respostas:

“A minha irmã estava na Vale, junto com os amigos, no horário sagrado do almoço. Ela estava no refeitório. Eles não a localizaram, mas não aceitamos que eles são ‘desaparecidos’. Eles simplesmente ainda não foram encontrados naquele mar de lama que cobriu toda a área.”

Natália mostra as últimas mensagens que enviou à irmã depois que soube do desastre:

“Mandei: ‘Leci, a barragem rompeu. Alerta. Pelo amor de Deus, me liga’. Isso era 12h35.”

Ela tem esperanças de que o corpo de Lecilda ainda seja encontrado embaixo da lama. Natália diz que a família ainda espera dar um funeral para a irmã:

“É dor e revolta que a gente sente. Muita dor e muita revolta de pensar. Se tivesse interditado, se tivesse tirado o restaurante dali, se tivesse descomissionado essa barragem…”

* Com informações do repórter Afonso Marangoni.

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