Ricupero questiona fala de Bolsonaro na ONU: ‘Agravou ainda mais a imagem dele e do país’

  • Por Jovem Pan
  • 24/09/2019 16h34 - Atualizado em 24/09/2019 16h48
J. F. DIORIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/ J. F. DIORIO / ESTADÃO CONTEÚDO Rubens Ricupero, embaixador nos EUA em duas oportunidades (1974-1977 e 1991-1993)

Rubens Ricupero, embaixador, ex-ministro da Fazenda e ex-ministro do Meio Ambiente, participou do Jornal Jovem Pan desta terça-feira (24) e criticou o discurso de abertura do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU. Ricupero tratou a fala do chefe do Executivo do Brasil como uma “lição de antidiplomacia”.

“É um discurso para o público interno, sobretudo aquele segmento mais engajado, mais militante, talvez os 12% que o apoiam de uma maneira radical e que esperam dele sempre esse tipo de linguagem. Então, não surpreendeu. Do ponto de vista internacional, foi uma lição de antidiplomacia. De como não se deve fazer diplomacia. Porque foi um discurso belicoso, agressivo, tanto no conteúdo como na forma”, afirmou Rubens Ricupero, embaixador nos EUA em duas oportunidades (1974-1977 e 1991-1993).

“O discurso dele foi muito defensivo, muito crispado, de alguém que estava lá enfrentando um público que ele imaginava hostil. Acredito que ele agravou ainda mais a situação de imagem dele e do país”, continuou.

Para o embaixador, até os acordos entre Mercosul e União Europeia e com a zona de livre comércio europeia estão em cheque.

“Antes do discurso eu achava que seria difícil ele agravar sua imagem, porque ela já tinha chegado em um ponto extremo de deterioração. Mas eu me enganei. Eu acho que agora a imagem fica pior no plano externo e não acredito que ajude internamente. A não ser aqueles que já são convertidos. Foram esses que se manifestaram aqui”, criticou.

“Os dois acordos com o Mercosul e a União Europeia, e o acordo com a zona de livre comércio europeia estão praticamente em hibernação profunda. Eles ainda não morreram, mas vão ficar na geladeira por um tempo indeterminado. Porque nenhum país europeu terá condições de submete-los a aprovação do parlamento. A não ser que mude a percepção da posição brasileira nesta questão da Amazônia. Quanto a isso eu acho que os acordos praticamente é como se estivessem liquidados. Com relação a outras questões, o prejuízo vai haver. Acho difícil por exemplo o Brasil entrar na OCDE com esse tipo de postura. Porque para entrar na OCDE é preciso ter uma política de meio ambiente avançada, com práticas comprovadas, com efeitos concretos”, ponderou.

“Com esse tipo de discurso, o que o presidente fez foi confirmar os piores temores. Acho que a partir de agora vai ser muito difícil ter um discurso que impressione positivamente o investidor, ou o financiador de um país estrangeiro”, concluiu.

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