Vai demorar para nos livrarmos do drama do desemprego, diz professor da USP

  • Por Jovem Pan
  • 30/11/2017 15h48
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Portal da Indústria/José Paulo Lacerda Portal da Indústria/José Paulo Lacerda "O comércio deve ainda empregar algumas pessoas, mas em dezembro nós vamos perder empregos, é inevitável", diz Zylberstajn

O economista Helio Zylberstajn, professor da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e do Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Trabalho (IBRET), falou a Denise Campos de Toledo no Jornal Jovem Pan sobre os números do desemprego divulgados nesta quinta-feira (30), divulgados pela PNAD Contínua do IBGE.

Apesar de a população desocupada cair de 12,8% para 12,2% no último trimestre (12,7 milhões de desempregados), o número de empregados com carteira de trabalho assinada (33,3 milhões de pessoas) ficou estável frente ao trimestre anterior.

“É uma recuperação”, diz Zylberstajn. “São mais de 800 mil trabalhadores trabalhando. O que preocupa um pouco é que o crescimento da ocupação está se dando no setor informal”, ressalva.

A maior parte do crescimento da população empregada se deu entre domésticas, trabalhadores sem carteira e por conta própria, majoritariamente informal.

“Embora a qualidade desse tipo de trabalho não seja a melhor possível, esses trabalhadores não existiam antes. Agora eles encontram”, destaca o economista. “A gente espera que esse crescimento comece a chegar na parte formal do mercado de trabalho”.

A pesquisa do IBGE, que conta o trimestre até outubro, ainda não mensura o impacto da reforma trabalhista, em vigor desde o começo de novembro. Zylberstajn pondera, no entanto, que “o impacto da reforma (no mercado de trabalho) não vai ser assim tão imediato. Vai demorar um pouquinho”.

PNAD x Caged

Ele compara os números da PNAD, que apontam uma estagnação das vagas formais, com os dados do Caged, que mostram aumento de vagas. O economista ressalta que as fontes de dados são diferentes: no Caged as empresas informam, enquanto o PNAD entrevista trabalhadores em casa. Mas vê semelhanças.

“Mesmo o Caged, que mostra um crescimento de cerca de 80 mil vagas, é uma coisa muito pequena ainda em relação ao universo de CLT, que são 39 milhões de trabalhadores. O que o Caged mostra é que basicamente nós paramos de cair, o que a PNAD também mostra”.

Fim do ano

Zylberstajn projeta que os números de dezembro no mercado de trabalho vão equilibrar a balança do ano. “O comércio deve ainda empregar algumas pessoas, mas em dezembro nós vamos perder empregos, é inevitável”, diz. Há uma queda de emprego. Muitas empresas demitem e trabalhadores saem do emprego para viajar, visitar terra natal”.

“Aqueda de emprego em dezembro será compensada pelo crescimento que tivemos ao longo do ano”, avalia. “Esse é um ano de estabilidade no mercado de trabalho, depois de três anos de queda”, analisa o economista. “Ano que vem tudo leva a crer que deve melhorar”, projeta.

Drama

O professor da USP destaca que “o desemprego é um drama do ponto de vista macroeconômico e, talvez mais importante, é um drama para quem está desempregado”. O trabalhador começa a se culpar por estar desocupado, sendo que é uma situação do País.

“Seria bom a gente conseguir se livrar rápido (do desemprego), mas infelizmente a gente sabe que isso vai demorar para acontecer”, entende Zylberstajn.

Distribuição de renda

O economista avalia que a desigualdade ainda será uma realidade. “Tivemos alguma melhora na distribuição da renda e redução da pobreza quando o mundo estava prosperando a reboque da China, na primeira década do século”, lembra.

Com a crise financeira, a China arrefeceu o crescimento.

“Isso se voltou contra países como o Brasil e tudo o que a gente ganhou praticamente foi perdido nesses últimos dois ou três anos”, lamenta.

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