Negra Li vê apropriação cultural em Elvis Presley: ‘Acostumou mal’

  • Por Jovem Pan
  • 26/11/2018 13h44
Johnny Drum - Jovem Pan Negra Li sugere que o racismo na época de Elvis fazia com que "muitos negros tivessem os seus álbuns lançados sem o rosto na capa"

No Morning Show desta segunda-feira (26), a rapper Negra Li, que acaba de lançar seu terceiro álbum solo, “Raízes”, falou sobre a mudança na sua forma de agir como mulher negra. Um dos temas que comentou foi a apropriação cultural, tópico polêmico em rodas de conversa. Ela sugeriu que o músico Elvis Presley, por exemplo, “ocupou o espaço de negros talentosos” porque era branco.

“Vamos apresentar esse cara branco com uma voz e ritmo negro”, disse sobre o músico estadunidense. Negra Li analisa que o racismo na época de Elvis fazia com que “muitos negros tivessem os seus álbuns lançados sem o rosto na capa”.

Negra Li reforçou que não acredita que Elvis conseguiu aproximar as pessoas da música negra: “Acostumou mal, [criou um sentimento de] para que vamos pegar negros se temos o Elvis Presley”.

Ainda sobre apropriação cultural, ela conta que fica “triste quando vê coisas pequenas” como a crítica a mulheres brancas que usam turbante. Para ela, apesar da crítica ser importante, o tema é maior.

“A luta contra a apropriação cultural é muito ampla, não é essa coisa pouca da mulher branca andando com turbante. Na verdade, falamos, por exemplo, de um desfile de coleção afro com modelos brancas. Apropriação é quando nos é tirada a oportunidade. Falta espaço”, explicou.

Representatividade e luta

Em julho deste ano, Negra Li interpretou uma costureira de 40 anos chamada Fátima em uma série do SBT, a Z4. Pouco após a estreia, a rapper criticou ser uma das únicas pessoas negras no elenco.

Ela aproveitou a entrevista para explicar sua fala na ocasião, “É difícil não falar. Não é fácil chegar num restaurante e só ver negros servindo. Não é fácil nunca ser atendida por um médico ou dentista negro. Eu falei, depois, que eu achei um absurdo que só tinha eu de negra ali. Eu fiquei contando nos dedos”, desabafou.

A rapper não costumava se expor nas redes sociais falando sobre assuntos polêmicos, mas a necessidade bateu à porta e Negra Li lançou seu novo álbum com um tom pouco conciliatório e de denúncia ao racismo e preconceito, aliando isso a uma presença mais expressiva nas redes.

“Eu acho que sempre fomos resistência, graças a Deus, eu tenho procurado nessas pessoas [minorias] uma aliança. É muito bom que tenham pessoas que lutam, isso me dá força e esperança, é um grito só, estamos bem amparados, tem negros advogados, instruídos, que nos ajudam a saber os nossos direitos”, declarou.

Para ela, não só é possível que pessoas que não são minoria ajudem na luta contra os preconceitos como é essencial que o façam. “É sempre importante na luta que outras pessoas que não estejam sofrendo lutem junto. Quando [nós, negros] falamos é mimimi, mas se você [Paula] que é branca falar sobre isso, vai ajudar. Não basta não ser racista, tem que ser antirracista”, defendeu.

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