Lula ataca Reinaldo Azevedo em Congresso do PT

  • Por Jovem Pan
  • 15/06/2015 09h27

"A renda básica é um direito de todos os cidadãos EFE Lula Itália

Reinaldo, quer dizer que Lula deu para você um presente no Dia dos Namorados?

Talvez eu devesse sentir mais orgulho do que sinto agora; talvez eu devesse bater mais bumbo do que vou bater agora; talvez eu devesse emprestar mais solenidade à coisa do que vou emprestar agora… E, sim, vou lhes revelar por que minha satisfação é discreta, por que economizo na percussão e por que prefiro a nonchalance à gravidade. Vamos lá.

Na sexta-feira, em pleno Dia dos Namorados, no discurso que fez na abertura do 5º Congresso do PT — aquele evento esvaziado, que indica um partido em decadência —, Lula não se limitou a demonstrar sua satisfação com o desemprego de jornalistas; ele não se contentou em aplaudir as eventuais dificuldades do setor de comunicação, o que leva as empresas a diminuir custos, inclusive por intermédio de demissões… Ah, sim: é bom lembrar que o mesmo acontece na construção civil, no setor automotivo, no comércio, nos serviços. Nada disso! Ele também resolveu nominar, ainda que sem ousar dizer, de fato, nomes, aqueles a quem considera, sei lá, maus brasileiros.

Sim, fui contemplado na fala do Babalorixá de Banânia; este blogueiro foi um dos eleitos do Apedeuta; este colunista virou um dos alvos de Dom Lulone, o Poderoso Chefão do PT; este radialista entrou na mira do palestrante mais caro do mundo. Leiam o que ele disse, Na sequência, está o áudio: “No dia 1º de maio de 2014, um blogueiro falastrão escreveu: ‘O PT começou a morrer. Que bom!’ E, no dia 7 de maio, um historiador que não deve conhecer a história escreveu, ‘adeus, PT’”.

O blogueiro a quem ele se refere sou eu, claro. Só que tal texto não foi publicado no blog, mas na minha coluna na Folha no dia 25 de abril do ano passado, não no dia 1º de maio. Aliás, eu me orgulho muito daquele texto, de sua atualidade, de sua precisão, de sua pertinência. Eu transcrevo trecho do que escrevi há mais de um ano. Leiam.

O PT ensaiou uma reação quando veio a público a avalanche de malfeitorias óbvias na Petrobras: convocou o coração verde-amarelo da nação. Tudo não passaria de uma conspiração dos defensores da “privataria”, interessados em doar mais essa riqueza nacional ao “sagaz brichote”, para lembrar o poeta baiano Gregório de Matos, no século 17, referindo-se, em tom de censura, aos ingleses e a seu espírito mercantil. Não colou! A campanha não pegou. A acusação soou velha, do tempo em que a ignorância ainda confundia capitalismo com maldade.

Desta vez, parece, os larápios não vão usar o relincho ideológico como biombo. Até porque, e todo mundo sabe disto, ninguém quer nem vai vender a Petrobras. Infelizmente, ela continuará a ser nossa, como a pororoca, o amarelão e o hábito de prosear de cócoras e ver o tempo passar –para lembrar o grande Monteiro Lobato, o pai da campanha “O petróleo é nosso”. A intenção era certamente boa. Ele não tinha como imaginar o tamanho do monstro que nasceria em Botocúndia.

Há nas ruas, nas redes sociais, em todo canto, sinais claros de enfraquecimento da metafísica petista. Percebe-se certo cansaço dessa estridência permanente contra os adversários, tratados como inimigos a serem eliminados. Se, em algum momento, setores da sociedade alheios à militância política profissional chegaram a confundir esse espírito guerreiro com retidão, vai-se percebendo, de maneira inequívoca, que aquilo que se apresentava como uma ética superior era e é apenas uma ferramenta para chegar ao poder e nele se manter. (…)

Volto Antes que siga: o historiador a quem ele se refere é Marco Antônio Villa, que deu seu adeus ao PT em coluna no jornal O Globo no dia 6 de maio de 2014. Mas volto ao meu texto: como se nota, eu antevia ali o partido cujos membros não conseguem jantar num restaurante, não conseguem andar nas ruas, têm de circular quase clandestinamente. E, como todos sabem, não endosso esse tipo de hostilidade.

Não deixa de ser um honra merecer de Lula a alcunha de “blogueiro falastrão”. Quem me xinga? O palestrante mais caro do mundo? O líder inconteste do partido que protagonizou o mensalão, o aloprão e o petrolão? O homem que erigiu um modelo que faz o Brasil mergulhar na recessão quando o resto do mundo cresce, exceção feita a alguns países cuja gestão é tão ou mais desastrosa do que a petista? Aquele que se orgulha de ter tirado, ao menos alardeia, 26 milhões da pobreza absoluta em 12 anos para, num único, no 13º, devolvê-los ao lugar de onde, então, haviam saído? O cara que bateu no peito se dizendo o maior criador de empregos do mundo para, agora, ser o maior matador de empregos do mundo? O aiatolá de uma legenda que transformou a roubalheira em categoria de pensamento e em categoria política? O líder espiritual de uma grei que transforma o estelionato eleitoral numa profissão de fé e tem a cara de pau de nem pedir desculpas? O sujeito que recebe, por meio de dois entes, R$ 4,527 milhões de uma única empreiteira, mas se diz o verdugo das elites e o porta-voz dos pobres?

Quem é o falastrão?

É uma honra receber tal desqualificação de uma personagem assim. Mas confesso que eu poderia estar mais satisfeito. E sabem por que não estou? Porque Lula está em decadência. Porque Lula é uma personagem restante de um mau sonho vivido por “estepaiz”, como ele diria. Porque Lula é, e já afirmei isto aqui tantas vezes, citando Fernando Pessoa, apenas um “cadáver adiado que procria” — um cadáver político.

Estou acostumado, não é? Alberto Cantalice, vice-presidente do PT, já chegou até a redigir  uma lista negra de pessoas que fariam mal ao Brasil. Eu encabeço o grupo dos nove. Entendo! Quem faz bem ao país são petistas como João Vaccari Neto, Renato Duque e o próprio Lula, comandante inconteste, desde sempre, de todos os filiados ao partido.

Poderia ser o auge da minha carreira, mas, evidentemente, não é. Ter conseguido mudar uma tradução do Vaticano ainda é o meu maior feito.

Preferiria, obviamente, ser atacado por gente intelectual e politicamente mais qualificada. Mas vá lá… Insuportável se mostraria ser citado por Lula como referência de bom jornalismo.

Esse foi um dos dois bons presentes que ganhei no Dia dos Namorados.

Obrigado, Lula!

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