Mercadante vai ficando, Dilma vai saindo, empresariado vai desembarcando e Lula vai fugindo
Se a presidente Dilma Rousseff não sabe, informo. O clima é de desembarque. Não importa para onde se olhe. Recente nota-manifesto assinada pela Fiesp e pela Firjan traduziu o que anda pensando o empresariado. Lideranças de outros setores da economia já buscam interlocuções de olho no pós-impeachment. Se a situação já era muito difícil antes de a Standard & Poor’s pôr o guizo no pescoço do gato, piorou bastante agora. Ninguém vê saída para a presidente — e isso inclui os petistas.
Não sei se notam, mas o próprio Lula começa a buscar um lugarzinho no pós-Dilma. É ele, não outro, quem está por trás de uma tal Frente Brasil Popular, que busca resistir ao governo pela esquerda.
Por enquanto, somos governados pela paralisia. O Planalto ainda não fez anúncio de corte nenhum nem deixou claro quem pretende tungar para aumentar a receita. Seus cinco milhões de coordenadores políticos anunciaram para esta sexta um esboço ao menos de resposta para a crise terminal, mas não veio nada. Estamos falando de uma gente que se especializou em dar tiro no próprio pé. Em vez disso, o dia foi tomado pela negativa enfática de que Aloizio Mercadante vá deixar a Casa Civil, embora Dilma busque alguém para a… Casa Civil.
Conforme o esperado, conforme o sabido, conforme o óbvio, o PT não quer entregar a pasta. Ficará feliz se ela sair das mãos de Mercadante, que é, primeiro, mercadantista e, secundariamente, petista. O partido insiste em manter o ministério que, em tese, ao menos, faz a coordenação geral do governo. Estamos diante de uma natureza. Ainda que sob o risco de perder tudo, a legenda não aceita abrir mão de um pedaço. E, assim, Dilma vai caminhando para o abismo.
Não sei se há tempo, a esta altura, de fazer alguma coisa. A presidente conta em seus quadros com políticos com mais trânsito do que as pastas às quais estão confinados. Há Gilberto Kassab (Cidades), do PSD, um bom articulador. O problema, nesse caso, são as resistências que enfrentaria em alas do PMDB.
Há Kátia Abreu (Agricultura), peemedebista ainda recente, é verdade, mas com abrangência suprapartidária em razão de ser também uma liderança do único setor da economia que não está no vermelho — o agronegócio. Até Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), do PCdoB, seria uma alternativa para tentar ampliar o diálogo. E, quando escrevo, “até”, refiro-me ao fato de que seu partido é pequeno. Sua interlocução no Congresso, no entanto, é bem maior. Afinal, já presidiu a Câmara.
Mas não tem jeito. O PT insiste em ter o controle da máquina — máquina sabidamente desgovernada, que atira para todo lado. O petista Jaques Wagner (Defesa), em razão de sua fala fácil, aparecia como cotado para a função, mas se desmoralizou com o episódio do decreto que tentou destituir os comandantes militares de atribuições… militares! A porcaria foi redigida por sua secretária-executiva sem que ele soubesse. A tal continua no cargo. Não me parece que isso o credencie para a Casa Civil.
O governo chegou a emitir nesta sexta uma nota negando que Mercadante vá deixar o cargo, destacando, adicionalmente, seus relevantes serviços ao governo. Soou como piada nos meios políticos porque se sabe que não há serviço relevante nenhum.
Encerro com um trecho da minha coluna desta sexta-feira (11) na Folha:
“Algum entendimento terá de ser feito para convencer a sociedade de sacrifícios adicionais, além daqueles que já estão em curso. Ou é isso, ou vem por aí uma espiral negativa de longuíssima duração. E a arena desse pensamento não é o Ministério da Fazenda. A Joaquim Levy, ou a outro, entregar-se-á uma máquina de calcular números. A realidade exige alguém que seja bom no cálculo político.
Ocorre que isso não se faz sem uma relação de confiança, que não existe mais. É preciso saber identificar o momento em que todos os bares se fecham e as virtudes se negam. Tá bom, presidente! Eu a deixo com o seu Riobaldo. Mas com um outro –aquele que cobra da senhora é coragem.”
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