Aposentado, Japonês da Federal diz que sua condenação "sem provas" aconteceu para "manchar a Lava-Jato"
Em 2009, o policial federal Newton Ishii foi acusado de facilitar a entrada de contrabando no Brasil. Em 2016, chegou a ser preso e cumpriu pena em regime semiaberto com tornozeleira eletrônica. Acontece que naquele momento ele atuava na Operação Lava-Jato e aparecia o tempo todo na imprensa realizando prisões de políticos e empresários envolvidos em esquemas de corrupção. Foi aí que veio o estranhamento da população. Afinal, como um condenado acabou virando símbolo da Justiça? Em entrevista ao Morning Show, o “Japonês da Federal”, como se popularizou, deu sua versão da história. Para ele, sua condenação foi “política”, “sem provas” e com intuito de “manchar a imagem” do trabalho da PF de Curitiba.
“Eu e vários colegas fomos presos sem mandado de prisão, sem provas, sem flagrante. A gente ficou tranquilo. Que acusação tinha? Passavam vários veículos com mercadorias? Sim, todo dia passava. Era contrabando? A gente prendeu? Não. A gente não sabia. Como nos acusam de um crime se nem provas apresentaram? Tivemos que correr atrás para mostrar isso. Quando saiu o mandado, o advogado mandou para mim e eu entreguei para a chefia com minha arma e minha carteira”, contou, sugerindo, em seguida, uma espécie de acusação.
“A pessoa que coordenou aquela operação hoje está sendo acusada e teve seus bens bloqueados. Na época ele falava que seria o diretor-geral mais novo da história da Polícia Federal. Existe esse tipo de coisa dentro da instituição, aí você fica sem reação. Tanto é que a PF é bem rígida disciplinarmente e no meu processo pediram arquivamento por falta de provas. Acredito que teve um elemento político, sim. Minha opinião é de que, no momento da deflagração da Lava-Jato e em seu decorrer, procuravam falhas para desmoralizar a operação. Até que chegaram nisso. Eu era a imagem da operação, então se apegaram nisso. Os processos são demorados, o meu não foi! Foi para manchar a operação”, completou.
Essas e outras histórias são contadas por ele no livro O Carcereiro – O Japonês da Federal e os Presos da Lava-Jato, escrito pelo jornalista Luís Humberto Carrijo e distribuído pela Editora Rocco. O lançamento acontecerá com uma sessão de autógrafos especial nesta quinta-feira (19) no Shopping Higienópolis em São Paulo.
Ao falar sobre sua transição de Newton para “Japonês da Federal”, ele – hoje aposentado da instituição – revelou ainda que, no início, passou por alguns problemas com sua família.
“Eu estava nas imagens que a imprensa transmitia. Não sei porque, talvez por eu ser o único oriental, acabei chamando a atenção. No início teve preocupação na minha família. Alguns parentes não gostavam dos memes. Mas eles tinham que entender que era brincadeira do povo. Tem que aceitar naturalmente, saber filtrar. Foi relativamente tranquilo para mim. Recebo elogios e tenho que esperar críticas também. O que posso fazer? Sair gritando pelo mundo que o que dizem não é verdade? Minha cabeça era voltada ao trabalho, a gente respirava a polícia, não tínhamos tempo para outra coisa. Eu ficava sabendo do que era divulgado sobre mim pelos amigos, nem assistia TV. Estava fazendo meu trabalho, era isso que me importava. Já sou experiente, não vou ficar preocupado”, declarou.
Durante a conversa, o convidado ainda compartilhou algumas situações em que viveu na carceragem com alguns dos presos mais comentados do Brasil. Disse, por exemplo, que José Dirceu era um preso bastante displinado, que Nestor Cerveró foi o que mais teve dificuldades para lidar com aquele ambiente, que Renato Duque entrou em um quadro clínico de depressão e chegou a pensar em tirar a própria vida e que Lula não tem privilégios onde está detido em Curitiba. Todos os vídeos podem ser vistos no canal do programa no YouTube.
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