Brasileiro executado na Indonésia "quis deixar um legado", revela diretor do doc "Curumim"

  • Por Jovem Pan
  • 07/11/2016 12h38
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Marcos Prado teve a difícil missão de levar às telas do cinema a história de Marco Archer, primeiro brasileiro a ser condenado à morte por tráfico de drogas. Morto na Indonésia em 18 de janeiro de 2015, o traficante carioca teve a sua vida retratada no documentário “Curumim – O Homem que Queria Voar”, lançado nos cinemas em 3 de novembro deste ano. O diretor revelou detalhes da produção no Morning Show desta segunda-feira (7), revelando como Archer conseguiu acesso a uma câmera para gravar seus relatos na prisão.

Mas por qual razão um diretor renomado se interessaria a fazer um documentário sobre a vida de um traficante? Prado conta que sentiu uma sinceridade no pedido do Archer, que queria deixar um legado e mostrar os perigos de seguir uma vida fora da lei.

“Eu senti uma honestidade no Curumim e queria deixar a história dele, ele contou tudo o que fez na vida. Eu até sentei e disse para ele me contar tudo mesmo, pois de alguma forma eu iria descobrir”, falou.

Nascido em uma família rica do Rio de Janeiro, Curumim sempre teve o que quis na vida, mas sentia falta do carinho de pessoas mais próximas da família. Por conta disso, começou a buscar ser reconhecido por meio das drogas, levando maconha para o seu círculo de amizade. A adrenalina o fez ir atrás do perigo e começar a comercializar drogas mais pesadas para fora do país. Segundo Prado, o “playboy” estava querendo parar com essa vida e foi pego exatamente em sua última cartada.

“Ele estava querendo, segundo amigos, parar. Ele pensou em dar uma cartada grande e ia faturar US$ 1,3 milhão na Austrália com os 13,5 Kg de cocaína. Ele tinha um plano B, ele sabia que estava fazendo algo arriscado. Ele deixou 5kg no Brasil caso as coisas saíssem do controle”, explicou. “O Filme mostra como a Indonésia é um país corrupto, muito mais que o Brasil em algumas áreas. Você consegue corromper um juiz que derruba a sua pena oferecendo dinheiro”, completou.

Mesmo com um sistema penitenciário corrupto, Archer não conseguiu escapar do governo do país asiático, que endureceu as regras para quem fosse pego traficando drogas no país. Após cinco anos preso, ele ligou para o diretor e deu a ideia de ter a sua vida documentada. Vendo as dificuldades de Prado conseguir autorização para entrevista-lo, o próprio Curumim foi atrás de uma câmera para filmar seus relatos, dentro de sua cela.

“Através da embaixada do Brasil na Indonésia eu tentei fazer uma entrevista na época. Acabou que passou um tempo e o Curumim disse que colocou uma câmera para dentro. Se ele parasse na solitária por causa da câmera, eu me sentiria mal. Ele começou a contar o esquema do presídio e um guarda colocou a câmera na mão dele”, revelou.

Marcos recriou a cena da execução de Curumim, após pesquisar o método e motivação dos soldados responsáveis pelo fuzilamento. Definindo como um método cruel, o líder do projeto ressalta que nem mesmo os oficiais querem ter o fardo de ter matado alguém.

“A execução foi uma reencenação. Fizemos uma pesquisa e é terrível o método que usam. Eles só colocam as balas de verdade em dois fuzis. Os soldados não querem matar e miram para cima na hora de atirar. Eles não querem ter o fardo de ser um assassino”, concluiu.

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