Consulesa francesa critica sistema de cotas: "são humilhantes"

  • Por Jovem Pan
  • 09/05/2016 11h12
Eduardo Mainardi/Jovem Pan

O racismo e o preconceito contra os negros foi o assunto que dominou o Jovem Pan Morning Show, desta segunda-feira (9). A consulesa da França no Brasil, Alexandra Loras, cobrou uma participação maior da mídia, principalmente a TV, na conscientização sobre o assunto. Para ela, o sistema de cotas em universidades não é o caminho correto para conseguir a igualdade étnica.

“As cotas são humilhantes e a pior das soluções do que seria ideal para ter uma sociedade igual”, disse. “Infelizmente, essa é a única solução”, complentou.

A consulesa acredita que a sociedade ainda não se reequilibrou de forma orgânica e deu como exemplo o presidente norte-americano Barack Obama para mostrar que negros podem alcançar cargos de grande importância no mundo.

“Eu enxergo que a sociedade não se reequilíbrou de forma orgânica. Sessenta anos atrás não poderíamos entrar nos mesmo locais que os brancos nos EUA. O Obama é o Presidente de todos os americanos e é isso que precisamos enxergar, que negros podem se tornar engenheiros, médicos, o que quiserem”, contou.

Loras acredita que a televisão precisa pautar assuntos que mostrem que os seres humanos são iguais e talentosos na mesma medida. “O preconceito é mundial. Seja com negros, gordos, gays. Precisamos incluir mais pautas na mídia para enxergar que somo iguais, únicos ao mesmo tempo e temos muitos talentos para colaborar com a sociedade”, opinou.

Esse seria o primeiro passo para que crianças brancas cresçam sabendo que as diferenças entre eles e os negros ficam apenas na cor. A televisão funciona como um espelho da sociedade para a consulesa e ajudará a criança negra a ter uma autoestima maior em seu crescimento como cidadão.

“Acho que o primeiro passo (na luta contra a descriminação) é a mídia. A televisão é o espelho da sociedade. Precisamos ver negros em cargos de liderança nas novelas. Ver o tipo de sociedade que gostaríamos ver. Isso fará a criança a enxergar o negro como alguém igual. O branco vai nos ver como mais respeito e mais simpatia. O problema não é apenas a baixa autoestima do negro, mas os brancos olharem para os negros e ver uma faxineira, um bandido”, concluiu seu pensamento.

Loras está lançando o livro “Gênios da Humanidade”, que traz personagens negros históricos e seus feitos que contribuíram para o desenvolvimento da sociedade. Ela bateu novamente na tecla de que é muito importante para o negro ter uma autoestima elevada em meio ao preconceito.

“Para mim é muito importante poder falar das grandes figuras negras. Mostrar que Teodoro Sampaio, Machado de Assis e André Rebouças foram grandes personalidades no Brasil. Ivan Torres, que criou a parabólica, mostrando que os negros contribuíram para o desenvolvimento da sociedade. É importante resgatar a nossa autoestima”, revelou. “Eu acho que o negro não sabe se colocar na sociedade, encontrar o seu espaço. É fundamental ter livros como esse “gênios” para resgatar a autoestima dos negros e também dos brancos como enxergam os negros. Precisamos quebrar isso”, completou.

A consulesa francesa, filha de mãe branca e pai negro, deu como exemplo a sua própria vida no país europeu. Loras possui irmão loiros e explicou que tinha a sua autoestima muito baixa por não se sentir bem em escolas e universidades recheada de brancos. Ela precisou lutar contra a sua própria consciência para subir na vida e conseguir um cargo importante na diplomacia entre os países.

“Meus irmãos são loiros de olhos verdes. Tive coisas bem difíceis na minha família. Quando fui estudar numa das melhores escolas da França, tive que luta com minha consciência de que eu não me inseria lá. Por isso quero resgatar a autoestima dos negros e mostrar aos brancos que temos potenciais iguais”, finalizou.

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