Dia da Consciência Negra: ‘não podemos esquecer o nosso passado’, concordam convidados do Morning
Dia 20 de novembro é o dia da consciência negra. Feriado nacional, a data foi criada em 2003 por pressão e influência de esferas de movimentos negros brasileiros. No Morning Show desta terça-feira, a mestre em Literatura, Cultura e Política Afro-Brasileira, Africana e da Diáspora Negra pela USP, Adriana de Cássia Moreira, e o Vereador e estudante de Direito, Fernando Holiday, debateram sobre a data e sua importância para os negros brasileiros.
As discordâncias entre o vereador e a mestre em literatura existem e são expressivas, mas ambos concordam que não “podemos esquecer nosso passado”, como disse Holiday. Para Moreira, o discurso de que não se deve falar sobre o racismo porque é coisa do passado não faz sentido e não aplaca a dor de viver o preconceito na pele. “Acho que é evidente que no horizonte possível eu gostaria que as pessoas me olhassem na rua como uma mulher. Mas, lamentavelmente, elas me olham como história do brasil. As pessoas [olham para mim e] não acham que estudei na USP, não acham que posso comprar roupas nas lojas que entro. Acham que eu era diarista no local onde eu era professora particular”, aponta.
Zumbi dos Palmares é uma figura importante deste 20 de novembro, ele é homenageado como símbolo da luta pela liberdade durante o período escravocrata brasileiro que se estendeu por cerca de 300 anos. A data foi escolhida para celebrar o dia associado a sua morte.
Apesar da homenagem, o líder do principal quilombo é um personagem envolto em polêmicas, uma figura “às vezes controversa”, segundo Moreira. Para o vereador paulistano, é difícil saber quem realmente foi Zumbi. Ele defende que o líder dos Palmares era uma figura autoritária e que mantinha escravos roubados de fazendas no quilombo.
Os convidados divergem também sobre a importância do ex-escravo enquanto símbolo de luta pela liberdade. Para Moreira, “nenhuma figura história é chapada, [elas] têm nuances, não são [apenas] boas ou más”. Ela defende que, dentro do contexto em que estava inserido o quilombo dos Palmares, havia – e ainda há – uma sustentação de liberdade que sobressai a figura de Zumbi.
Holiday discorda. Para ele, não houve e não há uma unidade nos movimentos negros brasileiros pós abolição e mesmo nos grupos contemporâneos. “[Zumbi] acaba sendo uma criação artificial e falsa criada na década de 1950 numa tentativa de enxergar nele e no quilombo dos palmares uma sociedade marxista que, na prática, nunca existiu”, disse. O vereador sugere que outro personagem negro importante na história do Brasil deveria ser homenageado. Para ele Luís Gama, advogado autodidata que ajudou a libertar centenas de escravos com sua prática profissional, é o verdadeiro símbolo da luta pela liberdade do povo negro.
Veja alguns momentos do debate:
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