Rock brasileiro perdeu espaço e a culpa (também) é dos rockeiros, avalia Tico Santa Cruz
Tico Santa Cruz avalia que o rock nacional perdeu seu espaço na cena muito por conta das próprias bandas, que não souberam como impulsionar os novatos, mas também por falta da troca de ideias entre os artistas.
Citando uma pesquisa do mercado fonográfico, o vocalista do Detonautas afirma que hoje apenas 3% do público brasileiro escuta o rock do país. “Isso não é só no Brasil. No mundo todo o rock perdeu um pouco do protagonismo, o hip hop cresceu muito lá fora e, por aqui, o rap já é o gênero mais ouvido entre os jovens”, explicou durante entrevista ao Morning Show desta segunda-feira (29).
A partir de dados das redes sociais, Santa Cruz sabe que seu público atual abrange as faixas dos 18 aos 44 anos, mas fala da dificuldade de se conquistar novos fãs.
“O rock no Brasil não tem mais tanto espaço, mas continua acontecendo dentro de nichos. Antigamente tínhamos a MTV, mais espaço no Multishow, as rádios que tocavam bastante rock. Essa nova geração [de bandas de rock] não desfruta do mesmo privilégio de poder falar pra tanta gente.”
“Mas também tem a ver com organização, o sertanejo se organizou de uma forma muito eficiente, criaram uma estrutura não só na cena musical como também financeira, que permite a realização de festivais enormes. O rock sempre foi meio desorganizado nesse sentido. Acho que [ainda teríamos espaço] se o rock tivesse se organizado mais, até para poder privilegiar a cena nova que precisa vir para reoxigenar”, disse.
Apesar das críticas, o Detonautas segue na estrada e divulga “Ilumina o mundo”, música que foi lançada em maio e tem um clipe feito em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV). O tema é depressão e suicídio, mas buscando motivar os jovens a viverem. A inspiração para a canção veio de um acontecimento pessoal vivido por Santa Cruz.
“Eu recebi um telefone durante uma gravação e era um conhecido, que já tinha feito um trabalho voluntário comigo, dizendo que estava ligando para se despedir. Eu achei que era no sentido de morar fora do Brasil, mas depois percebi o tom da voz dele embargado e ele contou que já tinha feito uma playlist e uma carta de despedida e queria falar comigo antes de partir. E eu percebi que ele estava falando de tirar a própria vida.”
“Fiquei mais de 2h conversando com ele e pedi para entrar em contato com a minha terapeuta. Conseguimos fazer ele mudar de ideia. Foi muito difícil. (…) Ele estava passando por uma crise financeira e num momento de desespero as pessoas querem achar uma solução; não acham, e pensam que a única solução é tirar a própria vida”, compartilhou o músico.
Tico contou que o debate sobre saúde mental avançou muito, mas ainda precisa melhorar. “Falta ao Brasil, à sociedade brasileira e autoridades tratarem isso como algo importante porque se a pessoa não estiver bem psicologicamente para estudar, trabalhar e produzir, o país também não vai pra frente.”
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