‘Ninguém pode dizer que se iludiu votando em Bolsonaro; ele nunca se escondeu’, diz Boris Casoy

Em entrevista ao Morning Show, jornalista analisa ascensão da direita e afirma que o presidente ‘colabora muito com as críticas’

  • Por Jovem Pan
  • 13/11/2020 12h54
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Imagem: Aquivo/Morning Show Após 64 anos de carreira em telejornais, Boris Casoy aposta em novos caminhos no YouTube

Em entrevista ao programa Morning Show nesta sexta-feira, 13, Boris Casoy lembrou como surgiu o seu bordão “Isso é uma vergonha!”, que atravessa há décadas o jornalismo brasileiro. “Eu estava começando na televisão em um telejornal do SBT. Era um momento em que, como mídia, começamos a exercer um pouco de abertura dentro da ditadura militar. Naquele momento, transmitíamos uma reportagem sobre a miserabilidade de um pronto-socorro em Recife, uma Recife já abandonada. Ao vivo, assistindo a matéria, fiquei indignado. A indignação tem uma relação direta com o ‘Isso é uma vergonha!’. Ali, lembrei de uma pequena emissora norte-americana que, quando o presidente John Kennedy foi assassinado, interrompeu a programação e colocou no ar um letreiro escrito ‘vergonha’. Quando a reportagem sobre o pronto-socorro acabou e a câmera abriu para mim, eu repeti três vezes: ‘Isso é uma vergonha!’. Foi um impulso”. O jornalista contou que, em um primeiro momento, foi repreendido pelo bordão. “Quando saí do ar e deixei o estúdio, um diretor do SBT veio ao meu encontro e disse: ‘Boris, em televisão não se faz isso. Com essa frase você invadiu a casa dos telespectadores e os agrediu’. Mas, enquanto ele falava, os telefones da redação explodiam. Muitos telespectadores ligaram dizendo: ‘esse era um grito que estava preso na minha garganta’. O ‘Isso é uma vergonha!” não transmite nenhuma visão moral, mas manifesta a angústia e indignação da população perante à injustiça administrativa e governamental. Por isso ele persiste há muitos anos e, acredito, que não deve acabar nunca”, afirmou.

Boris Casoy analisou que, mesmo com todas suas indignações, não enxerga a realidade brasileira com pessimismo. “Não elejo nenhum problema como a maior vergonha do Brasil. Afinal, temos muitas vergonhas. Escolhendo uma, tenho medo de esquecer de ofender as outras. O Brasil é melhor do que os brasileiros imaginam e nossas perspectivas a longo prazo sempre são melhores do que pensamos. Vivemos em um país enorme territorialmente, com uma costa espetacular, florestas fantásticas, vários tipos de climas e terras cultiváveis. Amo este país, mas precisamos dar uma desemperrada política no Brasil. Não adianta sermos um país desenvolvido e ainda existir pessoas passando fome”. Ressaltando que “o governante do momento representa só mais uma linha na história”, o apresentador opinou sobre o atual contexto político. “Há uma ascensão do que chamamos de direita. Antigamente, quando uma pessoa se dizia de direita, era algo grave porque logo a relacionavam com o fascismo ou com o nazismo. Hoje isso mudou. Por exemplo, atualmente não vejo que exista um jornalismo militante de esquerda, existem várias tendências políticas nas redações. Não vejo que a imprensa esteja dirigida contra o presidente Jair Bolsonaro por questões ideológicas ou por uma grande conspiração. Quando o elegemos, conhecíamos seu comportamento explosivo, de falar sem pensar. Ele, com suas expressões não pensadas, para dizer o mínimo, colabora muito com as críticas. Além disso, ninguém pode dizer que se iludiu votando em Bolsonaro. Ele foi eleito pela maioria e já o conhecíamos de corpo inteiro, ele nunca se escondeu.”

Ainda que exerça o jornalismo há 64 anos, Boris Casoy refletiu sobre o futuro e os novos caminhos em sua carreira, migrando das emissoras de televisão para o mundo digital. “Ultimamente estava mais difícil trabalhar em televisão. Não tive nenhum problema com a RedeTV, a última emissora que passei, mas sabia que eles adotavam certas posições políticas. Assim, preferi o silêncio durante um tempo. Foi um momento em que me senti sufocado, mesmo tendo liberdade para me expressar na emissora, me sentia sufocado pelo meu autocontrole. Ainda estou tateando o YouTube, dizem que na internet não existe o autocontrole e realmente sinto isso. Agora, sou mais o Boris de 17 anos do que o velho com 79 anos. Estou perdendo os freios e me sentindo perigosamente à vontade”, concluiu.

Confira na íntegra a entrevista com o jornalista Boris Casoy:

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