Thiaguinho vê "preconceito escondidinho" no Brasil: "cotas são um mal necessário"
Entrevistado do programa Jovem Pan Morning Show desta terça-feira, Thiaguinho comentou sobre diversos temas. Um deles foi o racismo. O cantor, que é um dos artistas mais engajados contra o preconceito racial, voltou a se posicionar de forma enfática a respeito do assunto. Thiaguinho disse que a intolerância tem diminuído no Brasil, mas contou que ainda percebe um “preconceito escondidinho” nas relações interpessoais.
“Se perguntar para dez negros, dez vão dizer que já sofreram e continuam sofrendo preconceito no Brasil. Aqui no País, existe um preconceito escondidinho. Por exemplo, tenho vários amigos brancos, e, às vezes, tem coisa que acontece ao meu redor, eu percebo e falo: ‘ó. Aquilo é preconceito´. Aí, eles falam: ‘impressão sua’. Mas não é impressão minha”, afirmou.
Thiaguinho até apelou a um exemplo pessoal para revelar um desses “racismos velados”. “Teve uma vez que uma menina de Presidente Prudente, minha cidade-natal, estava me entrevistando. Ela veio me perguntar da minha infância, dizendo que eu havia crescido na periferia e não tinha tido oportunidades de estudo. Mas eu não vim da periferia de Presidente Prudente e estudei durante a minha vida inteira. Meus pais, inclusive, são professores”, contou.
Por essas e outras, o ex-vocalista do Exaltasamba disse que, hoje, é favorável à política de cotas para negros em universidades – embora admita que ela realça a diferença racial. “Eu sou a favor. É um mal necessário. Tudo bem, provoca essa diferença entre as pessoas, mas os negros foram tratados de forma diferente no início, na colonização do País. Existe uma dívida a ser paga. Não sei de quanto tempo. Mas eu, Thiago, acho a política de cotas um mal necessário”, afirmou. “Infelizmente, durante muito tempo, a maioria pobre do País foi negra. Isso é histórico. O negro chegou ao País como escravo, e isso só tem começado a mudar há pouco tempo”, finalizou.
Situação política do Brasil
Thiaguinho também revelou o que pensa sobre a crise política enfrentada pelo Brasil. Dilma Rousseff foi afastada da presidência da República há algumas semanas, após ser acusada de cometer crime de responsabilidade, e muitos políticos têm sido investigados pela Operação Lava-Jato – que se debruça sobre o sistema de corrupção da Petrobras, a maior estatal brasileira.
“É uma situação muito triste. Quando a gente vê o nosso povo sofrendo por injustiças de pessoas que conseguem deitar no travesseiro com fortunas ilícitas e se esquecem que pessoas passam fome e morrem nos hospitais, é muito triste. E digo isso não só de políticos. A relação humana está desgastada. Eu sinto falta de amor entre as pessoas. Há muito individualismo”, constatou.
O cantor, contudo, preferiu não entrar em polêmicas. “Eu converso muito com o meu pai sobre isso. Eu tenho a minha opinião, mas prefiro ir mais ao lado humano do que ao lado político, porque vivemos em um mundo muito complicado. Qualquer frase que eu disser aqui pode virar um turbilhão”, afirmou. “As pessoas têm um pouco de dificuldade de aceitar a opinião alheia, principalmente do artista. Tudo o que se fala tem um peso maior. Penso dez vezes antes de falar qualquer coisa. Tenho muitas opiniões contundentes, mas me seguro para falar, se não vou causar”, finalizou.
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