Mulher é pressionada para não registrar boletim de ocorrência no Carnaval

  • Por Jovem Pan
  • 03/03/2017 10h36
Reprodução/Google Maps Frente do 56º DP da Vila Alpina

Em 2015 a rádio Jovem Pan contou no Jornal da Manhã de que forma delegacias de São Paulo estavam dificultando o registro de boletins de ocorrências. Praticamente dois anos depois, a gente conta para o ouvinte do Jornal da Manhã um caso que nos mostra que nada mudou quando o assunto é o atendimento ao cidadão.

Domingo de carnaval a gente quer mesmo é diversão não é? A Amanda também queria. Ela foi com o namorado para um barzinho na Mooca, zona leste da cidade de São Paulo.

Só que, no meio da festa, o que era para ser uma folia de carnaval, virou um problema. Amanda conta que foi agredida por outra mulher e levou chutes e socos.

Na verdade, um problema apenas não, daí para frente foram vários os problemas enfrentados pela Amanda. É porque, além de ter sido vítima de agressão, ela passou por algo que a gente chama de revitimização – aquele momento em que o Estado que deveria atender o cidadão, age como um segundo agressor.

Primeiro, a polícia desestimulou a vítima a registrar boletim de ocorrência. Chegando no distrito policial de numero 56, elas foram chamadas de “meninas de periferia” e foram obrigadas a esperar até 7h do dia seguinte porque “quem briga não tem pressa”.

O problema da Amanda não é novo. Em 2015, o Jornal da Manhã da jovem pan trouxe uma série de reportagens em que mostrávamos justamente essa dificuldade para registrar um boletim de ocorrência no Estado de São Paulo. “A senhora pode fazer pela internet”, sugeria a atendente, relatando necessidade de esperar “de duas a três horas”.

E, voltando ao episódio ocorrido com a Amanda, as agressões do Estado para com ela não terminaram. Depois da agressão, do desestímulo ao registro da ocorrência, do tratamento na delegacia, na segunda-feira, ela foi ao IML de Santo André para fazer um exame de corpo de delito.

Por lá, foi informada que, por causa do plantão de carnaval, apenas casos envolvendo a lei Maria da Penha seriam atendidos. Vítimas de tipos diferentes de violência deveriam se dirigir a alguma outra sede do IML para fazer o exame, ou, retornar somente na quarta-feira, após o término dos festejos.

Outro lado

A Secretaria de Segurança Pública enviou à Jovem Pan uma nota em que informa que não conseguiu localizar os registros, mas que “as queixas serão apuradas” e “não condizem com os protocolos de atendimento das polícias paulistas”.

Segundo a SSP, foi firmado “um convênio com o Ministério Público para capacitar melhor os policiais para o atendimento desse tipo de ocorrência”.

A nota ainda coloca à disposição as corregedorias “para a vítima formalizar a queixa”.

Amanda, no entanto, tentou contato com a ouvidoria e a resposta não foi satisfatória.

“Eu entrei em contato através do telefone (11) 3154-7730, que é a ouvidoria da PM, e o atendente informou que eu precisava ir pessoalmente registrar a reclamação e posteriormente me colocariam frente a frente com o delegado, para esclarecimentos”, relata.

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