Mulher segue recebendo menos que o homem e sofre mais com o desemprego
Um novo levantamento do Seade Dieese constata uma realidade que pouco muda no Brasil. Em 2016, a mulher continuou recebendo menos do que o homem e, em época de crise, sofreu mais com o desemprego.
A taxa de desocupação em São Paulo entre elas quase bateu os 19%, cerca de 4% a mais do que o índice que reflete o cenário masculino. E a regra nacional serve como parâmetro para diversos ramos.
Fernanda Cerávolo não foi contratada por uma agência porque revelou na entrevista que tinha uma filha de 11 meses, mas hoje é head do YouTube Brasil. “Apresente meu portfólio para o presidente da agência, eles adoraram, a conversa se estendeu por quase uma hora. No final eles perguntaram: ‘e a sua vida pessoal?’”. Quando revelou que tinha uma filha, Fernanda foi dispensada da entrevista.
A pesquisa ainda mostra que, no quesito instrução, 36% das mulheres em idade ativa tinham nível superior, contra 30% dos homens. Um dado que incomoda a empresária Alexandra Loras, ex-consulesa da França em São Paulo, porque escracha uma distorção. “Se saímos mais diplomadas, por que não estamos nesses cargos de liderança?”, questiona.
Alexandra e Fernanda participaram de um evento da editora Abril em São Paulo que discutiu o papel da mulher dentro das empresas e da mídia.
A atriz Taís Araújo admite que no início da carreira, apesar da boa formação escolar e familiar, tinha pouco senso crítico. “As pessoas faziam o que queriam comigo. Eu era o verdadeiro fantoche porque não fui educada nem preparada para falar, me expor. Eu fui silenciada”.
Ser mulher, negra e artista não é exatamente um papel fácil de exercer aqui ou lá fora. Impor-se no mundo dos negócios, dirigido por uma maioria de homens, também entra nessa lista. No showbiz, recentemente, a diferença salarial da Sony Pictures vazou. O ator Robert Downey Junior, maior estrela da companhia em par de igualdade com Jennifer Lawrence, ganhava bem mais que a colega. A atriz chiou publicamente.
No meio, há até um teste chamado Bechdel, que questiona se uma obra de ficção privilegia o papel da mulher, explica a cineasta Vera Egito, que roteirizou o filme Elis. “A pergunta um é: existe alguma personagem feminina com fala? Ela fala com outra personagem feminina durante o filme? 70% já caem nessa porque ela só falam com o protagonista, que é homem. Se sim, mas fala sobre algum assunto que não seja ‘homem’”?
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A diretora do canal GNT, Daniela Mignani, admite que recebe diversas críticas por abordar temas muito “plurais” na programação, que inclui a mulher em papel de destaque. “Mas isso não nos intimida”, diz.
Mas a discussão do papel da mulher na arte, na sociedade, no mercado de trabalho, que inclui o improdutivo fla-flu entre machismo e feminismo, segue firme.
A reforma na previdência, por exemplo, vai jogar mais luz ao tema nos próximos meses.
Apesar da dupla jornada de trabalho, da maior instabilidade no emprego e do menor salário, a mulher deve ser compensada com uma idade menor de aposentadoria? Ou a ideia acaba fortalecendo o papel tradicional da mulher, quando já passa da hora de rever essa divisão envelhecida dos papéis masculino e feminino?
Refletir sobre o tema é sempre um bom começo.
Reportagem de Carolina Ercolin
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