O Fim da Picada: Brasil tem três epidemias por causa de aedes aegypti

  • Por Jovem Pan
  • 21/12/2015 11h25
Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas Aedes aegypti

 O descaso da Saúde no Brasil atingiu seu ápice: é alarmante o surto de recém-nascidos com microcefalia que o Brasil enfrenta neste ano. De acordo com os números oficiais, já passam de 2.000 os casos suspeitos e quase 150 já foram confirmados. São bebês que terão comprometimentos neurológicos para a vida toda, se sobreviverem.

E o balanço só não é mais preocupante porque ainda não existe um teste 100% seguro que comprove que uma pessoa já pegou o zika vírus em algum momento da vida. Segundo especialistas, quando essa sorologia for inventada, o balanço vai explodir.

Quem são os responsáveis pela epidemia, o que já foi descoberto sobre o misterioso vírus e como a falta de investimentos contribuiu para uma das piores catástrofes na área de saúde de todos os tempos?

As respostas você acompanha a partir desta segunda-feira na Jovem Pan na série de reportagens especiais “O Fim da Picada”.

Em 18 de Novembro, Marcelo Castro, ministro da saúde, diz: “Sexo é para amador, gravidez é para profissional”. A afirmação, desajeitada, passa também uma mensagem torta. Porque apesar de o Governo não admitir com todas as letras, “não engravide” é o alerta.

Um dos mais respeitados infectologistas do país, Artur Zimmerman afirma: “Eu conversei com várias pessoas do ministério, que falam para mim ‘ainda bem que você fala, porque a gente pensa a mesma coisa mas não pode falar’”. Na visão dele, a orientação deveria ser assumida publicamente para evitar uma catástrofe sem precedentes.

Zimmerman é duro. Classifica a situação como dramática e o Governo como negligente: “Nós estamos em uma situação, sem medo de usar essa palavra, que é dramática”.

O mosquito Aedes Aegypti, nome que significa “odioso do Egito”, é considerado uma das espécies mais difundidas no planeta. Não há registro no mundo que relate algo semelhante com o que vivemos: em um mesmo período, zika, dengue e chikungunya aterrorizam a população brasileira. Zimmerman diz: “Estamos vivendo no Brasil uma situação totalmente inusitada, estamos com três epidemias, causadas por três vírus diferentes e transmitidas por um só vetor que é o Aedes aegypti. Nem sabemos qual a consequência disso”.

É tão intrigante quanto preocupante a eficiência da evolução desse mosquito tão temido. Um exemplo são os ovos, que ficaram ultra resistentes com o tempo. Sobrevivem por até um ano e meio depois de colocados. O infectologista afirma: “Nós que temos estudado bastante o mosquito, admiramos a sua estruturação biológica para se adaptar ao ambiente que fornecemos para ele”.

Mas nem sempre ele foi “quase” invencível. Depois que deixou a África e chegou às Américas, o Aedes já foi erradicado do Brasil duas vezes no século passado. Uma delas graças ao sanitarista Oswaldo Cruz quando a preocupação por aqui não era a dengue, chikungunya ou o zika vírus, mas sim a febre amarela, recorda o doutor em virologia, Gubio Soares: “Naquela época tinha a ignorância, de cientistas, do governo e da população, e hoje nós temos uma infestação de mosquito quase no mesmo nível da época do Oswaldo Cruz. Então temos o abandono total das autoridades no combate ao mosquito, na prevenção”.

Um abandono total que hoje causa o pânico especialmente entre as grávidas, como Carolina, que tem pavor só de imaginar que seu bebê possa nascer com microcefalia por um descuido seu: “O médico disse que até o sexto mês, o cérebro do bebê ainda está terminando de se formar. A gente acaba não vivendo porque tem receio”.

Mas a culpa não é da Carolina, nem das mais de 2.000 mães que deram à luz a bebês com o crânio menor do que o normal e que ainda aguardam a confirmação científica para associar a má formação ao zika. Nem das 150 crianças que nasceram com a deficiência comprovadamente provocada pelo vírus.

Segundo especialistas, além do descaso do Poder Público na área de saúde, uma parcela da responsabilidade pela proliferação do Aedes aegypti no Brasil é atribuída ao modelo caótico de urbanização das cidades. Com saneamento precário, coleta de lixo inadequada, impermeabilização das ruas, o que também esbarra na responsabilidade do Governo.

E diferentemente do passado, hoje é impossível falar em erradicação do mosquito, afirma o pesquisador da Universidade Federal da Bahia, Gubio Soares: “Nunca vai poder eliminar biologicamente, mas você controla. Quanto menos mosquitos tiverem, menor a chance de transmissão de doenças. Vem muita gente de fora em eventos muito grandes como foi o caso da Copa, e vai ter as Olimpíadas”. Pois é. Olimpíadas. A abertura está marcada para 5 de agosto de 2016.

Agora, seremos, até lá, um destino seguro para os milhares de turistas que vão desembarcar por aqui?

Este é o tema do 2º capítulo da série O Fim da Picada, que será transmitido na terça-feira (22/12) na Jovem Pan.

Reportagem da Carolina Ercolin

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