O papel do Banco Central é gerenciar as expectativas, diz ex-presidente do órgão
Para o ex-presidente do Banco Central, Carlos Langoni, o grande erro da atual gestão da entidade foi estratégico e não técnico: “Do ponto de vista técnico, a decisão de manter as taxas de juros não é absurda. (…) O que foi excepcional, um erro estratégico do Banco Central, foi ter falado na última reunião do Copom que iam aumentar os juros. Essa mudança em cima da hora é que causa danos, já que um dos seus principais papéis é gerenciar expectativas”. O economista ainda afirma que para gerenciar as expectativas é preciso preservar a credibilidade, mas ela foi “arranhada” neste episódio, que também passa a impressão de haver pressão política que fez o Banco Central abrir mão de sua autonomia.
Para um rumo adequado da economia é preciso dissociar as instituições políticas das econômicas, defende Langoni: “O Brasil tem que reforçar suas instituições, instituições políticas cuidam da política, econômicas tem que fazer seu trabalho, o ministério da fazenda tem que cuidar do equilíbrio das contas, para que tenha estabilidade, inclusive social, e tudo funcione como desejamos. Partidos políticos querendo ditar política econômica é um absurdo”.
Sem rumos claros na política fiscal, com um desequilíbrio grave nas contas internas, problemas na previdência, uma economia idexada e o Brasil visto, aos olhos estrangeiros, como um país emergente vulnerável, o economista acredita que vai ser bem difícil sair da recessão: “Devíamos ter feito o dever de casa há anos, mas fomos adiando decisões difíceis. (…) Estamos no segundo governo e não vejo um rumo claro para a economia. (…) O governo tem capacidade de tomar iniciativas e de liderar, mas tem que ser por um caminho claro”.
Langoni explica que existem conceitos econômicos que, ao contrário da política, não dão margem para discussões: “Existem fundamentos macroeconômicos que passam por cima de tudo. Inflação controlada, um orçamento público previsível com déficit moderado são fundamentos básicos para o crescimento econômico. (…) Podemos discutir a alocação de recursos, que é uma discussão que tem conteúdo ideológico, mas fundamentos macroeconômicos não”.
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