‘Chamar de nova cloroquina é uma das maiores estupidezes que eu já vi’, diz pesquisador da proxalutamida
Anvisa autorizou nesta segunda-feira, 16, a realização de um estudo clínico para avaliar a segurança e a eficácia do medicamento citado por Bolsonaro
Em entrevista ao programa “Os Pingos Nos Is“, da Jovem Pan, o mestre e PhD em Endocrinologia Clínica Flavio Cadegiani, um dos autores da pesquisa sobre a proxalutamida como tratamento contra a Covid-19, afirmou que o medicamento não tem semelhança molecular com a hidroxicloroquina e criticou as comparações com o medicamento. “Chamar de nova cloroquina é uma das maiores estupidezes que eu já vi, é nitidamente componente político”, disse. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou nesta segunda-feira, 19, a realização de um estudo clínico para avaliar a segurança e a eficácia da proxalutamida na redução da infecção viral causada pelo coronavírus e no processo inflamatório provocado pela Covid-19. O remédio foi citado pelo presidente Jair Bolsonaro na manhã de domingo, 18, após receber alta do hospital. A proxalutamida é um antiandrogênico que está sendo estudado como um possível tratamento para câncer de próstata e de mama. A pesquisa aprovada pela Anvisa é de fase 3, randomizada, duplo-cega, controlada por placebo, para avaliar a eficácia e a segurança da substância em participantes ambulatoriais do sexo masculino com Covid-19, de leve a moderada.
Cadegiani afirmou à Jovem Pan que ainda são necessários estudos confirmatórios, mas que inicialmente o medicamento se mostrou eficaz para tratar o coronavírus. O médico endocrinologista, no entanto, disse que após ter sido citado pelo presidente, o remédio foi escrutinado e passou a ser chamado de “nova cloroquina”. “O grande problema dessa molécula foi a partir do momento em que Bolsonaro falou dela. Minha vida virou um inferno de perseguição injusta”, relatou. Cadegiani também comentou que a polarização política tem afetado a pesquisa científica. “Independente das minhas opiniões, a gente está num momento de tamanha polaridade, que hoje se Bolsonaro disser que amamentar faz bem, é capaz de ter uma campanha de mastectomia para mulheres”, ironizou. “O comportamento antibolsonarista, independente do que eu penso dele, tem passado de todos os limites, porque eles não permitem que qualquer atitude seja positiva, mesmo que isso custe vidas”, completou. O médico endocrinologista, no entanto, defendeu as vacinas como solução para a pandemia e destacou que gostaria de estudar outras moléculas como tratamento para doença. “A autorização precoce das vacinas foi necessária e ela vem ser a solução final para a pandemia. As drogas não são uma briga contra a vacina, a gente vem para complementar, todas as ferramentas são válidas”, ressaltou.
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