Palocci mostra o retrato acabado do PT

  • Por Jovem Pan
  • 16/06/2015 10h00
Palocci 070611

Reinaldo, há duas notícias sobre Antônio Palocci circulando hoje. O que há de curioso sobre isso?

Duas notícias sobre o ex-ministro Antônio Palocci circulam nesta terça: uma, a que conteria ilegalidade, por enquanto, é só espuma; a outra, que talvez ilegalidade não seja, a ver, é do balacobaco e não deixa de ser o retrato acabado do PT.

Vamos à primeira: o juiz Sérgio Moro determinou abertura de inquérito para apurar se, em 2010, Palocci, então um dos coordenadores da campanha de Dilma, teria recebeu R$ 2 milhões do esquema corrupto que operava na Petrobras. A acusação consta da delação premiada de Paulo Roberto Costa. Segundo Costa, o dinheiro teria saído da cota do PP, do qual ele era um dos operadores, e Alberto Youssef teria sido encarregado de fazer o pagamento. Ocorre que, também delação premiada, o doleiro nega que isso tenha acontecido. Se a coisa parar no diz-que-diz-que, sem prova ou indício, isso não dará em nada. Ao fim do inquérito, há o risco de Palocci ainda sair com atestado de boa conduta.

A notícia que, em princípio, não revela um crime é que é do balacobaco. Entre 2007 e 2010, quando era deputado federal, Palocci recebeu a soma fabulosa de R$ 35 milhões atuando como consultor, por intermédio de sua empresa, a Projeto. Entre os maiores clientes, a Amil (R$ 6,3 milhões), o escritório de advocacia de Márcio Thomas Bastos (R$ 5,5 milhões), a Caoa Montadora de Veículos (R$ 5,4 milhões) e a JBS (R$ 2,3 milhões).

Notem: um empresário, com efeito, não precisa sair de todas as suas atividades privadas ao se tornar um político eleito. O que espanta, obviamente, é o talento dos petistas para essa coisa meio inefável que é a “consultoria”. Ok. Que os sedizentes socialistas tenham se apaixonado pelo capitalismo de maneira tão determinada, a gente até poderia entender. Mas por que, então, não se mantêm longe das estruturas do Estado?

“Ah, mas esses clientes eram privados!”, exclamará alguém. É verdade! Mas Palocci era um deputado federal, membro influente daquele que já era o partido mais poderoso do país. É impressionante que tenha caído em meio ao turbilhão do caso Francenildo e feito do revés político a chance de se tornar um consultor milionário. A lista de clientes também indica o ecletismo da consultoria de um homem só. Parece que quem buscava seus serviços queria algo além do que a sua sabedoria. Também buscava o parlamentar influente na sua bancada e no próprio Congresso.

Já escrevi aqui: eu sou, sim, favorável à legalização do lobby. Mas sou contra a eleição de um lobista. Aí, acho que é misturar leite com carne, não é mesmo? E o ex-ministro se mostra um fanático nessa área: não custa lembrar que foram suas consultorias e seu patrimônio rechonchudo que o derrubaram da Casa Civil no primeiro mandato de Dilma. Faço-lhe justiça, sim: o governo nunca mais se acertou; a partir dali, tivemos uma sequência impressionante de erros. A habilidade política de Palocci, no entanto, não desculpa, obviamente, a ligeireza com que ele mistura público e privado.

Pensem um pouquinho: do ponto de vista ético — não entro aqui na influência que cada um tem no PT —, a sua consultoria é muito mais problemática do que a de José Dirceu. A rigor, se o ex-chefe da Casa Civil não tivesse servido a tantas empresas que tinham interesse no Estado — onde ele continuou influente —, não haveria nada de errado com a sua atividade.

É de lascar! Palocci não produz porca. Palocci não produz parafuso. Palocci não produz carne. Palocci não produz leite. Palocci só produz… influência. Pode até ser que, nas suas múltiplas e tão variadas consultorias, não tenha cometido um só ato que possa ser considerado ilegal. Mas cabe a pergunta: é ético?

Eu sei. Essa é uma questão com a qual os petistas há muito tempo já não se importam.

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