Alckmin sugere: se Temer assumir, primeira medida é a reforma política

  • Por Jovem Pan
  • 14/04/2016 15h18
Rodrigo Freitas/Jovem Pan

O governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) participou do programa Pânico no Rádio nesta quinta-feira (14) e comentou a crise política e econômica do País, dando inclusive sugestões a Michel Temer (PMDB), caso ele assuma a Presidência, e prometeu “ajudar o novo governo”.

“Se o Temer assumir, a primeira reforma que tem que fazer é a política”, propôs. O governador disse defender o voto distritual puro, semelhante aos modelos americano e inglês. Alckmin entende que os políticos condenados no mensalão não seriam reeleitos em seus distritos se esse fosse o sistema eleitoral. Ele argumenta ainda que apesar de o Brasil ter “a mais moderna tecnologia eleitoral do mundo”, com as urnas eletrônicas, “do ponto de vista do sistema político, não tem nada pior”, uma vez que sem o voto distrital “o candidato a deputado faz eleição de governador”, tendo que percorrer todo o estado.

A outra medida defendida por Alckmin é a cláusula de barreira, que limitaria a entrada de partidos pequenos, com pouca representatividade, no Congresso Nacional. Em outras democracias, avalia o tucano, “geralmente você tem no mundo dois grandes partidos, mais três ou quatro que compõem a maioria”.

O governador entende que, se fosse hoje a votação, o impeachment da presidente Dilma Rousseff aconteceria. Ele lembrou a “debandada” contra Collor que ocorreu durante a votação, quando Alckmin ainda era deputado federal em 1992. O tucano afirmou que não irá à manifestação de domingo (17), dia em que o impeachment será analisado na Câmara, mas vai “acompanhar”.

“O que vamos fazer é completar a questão do impeachment e ajudar o novo governo, virar a página para recuperar o emprego. Fazer esse país andar”, disse.

Alckmin também ressaltou que é a favor do parlamentarismo, mas não vê clima político para tal nível de mudança no atual contexto. “Nesse momento eu sou contra. Não tem como fazer parlamentarismo sem partidos políticos e hoje não tem”, disse, citando novamente a fragmentação de representação parlamentar e o grande número de siglas.

Dilma

A fragmentação partidária, na visão do governador, é um dos motivos da crise que abala o governo Dilma. “Um avião não cai por uma causa só. É uma conjunção de fatores. Você tem uma crise política que não vai acabar com o impeachment”, reconhece. “Você pode ter 100 partidsos, só não pode ter 28 representando (no Congresso). Você não tem 28 ideologias”, disse.

Os outros motivos que o governador enxerga para a decadência do governo Dilma seriam a “crise jurídica”, com o avanço da Lava Jato sobre os políticos, e a “falta de liderança”. Alckmin afirmou que por isso não se pode eleger alguém “sem experiência” para comandar um “Airbus”, comparando o governo ao avião de grande porte.

Candidato em 2018?

Questionado se pretende concorrer à Presidência nas próximas eleições, Alckmin não negou: “se eu disser que não tenho nenhuma aspiração, ela não é verdadeira”. Mas não confirmou: “não é (questão de) vontade pessoal”. Ele entende que depende muito do “momento” e da “conjuntura” para a tomada dessa decisão. “Cada dia, a sua agonia”, filosofou.

PT e Lula

Perguntado sobre o que pensa a respeito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Alckmin afirmou: “Eu nunca tive intimidade com o ex-presidente até porque nós sempre tivemos em partidos opostos”. E mais: “Eu não gosto nem do Lula nem do PT. Não por questão pessoal. Mas pelo estrago que ocorreu no País”.

Sergio Moro

“Sergio Moro marcou história”, afirmou também Alckmin. Para ele, o juiz federal do Paraná que analisa os processos da Lava Jato participa de um “fato novo” da nação, que é a prisão das pessoas de “colarinho branco”. “Eu vejo que é um salto de qualidade no Brasil”, disse, não vendo possibilidade de reversão desse trabalho nos próximos anos. O governador também lembrou: “Um promotor derrubou o homem mais poderoso do mundo, que foi o (Richard) Nixon (37.º presidente dos Estados Unidos, que renunciou após o escândalo de Watergate)”.

Política para o povo e Previdência

Questionado se o PSDB aprendeu com os governos do PT a se importar mais com o “povo”, Alckmin disse: “não há política pública mais importante para o povo do que emprego e salário. E emprego e salário não cai do céu”. Ele citou o isolamento do País em relação ao comércio exterior. “Nós nos acomodamos. O Brasil é vocacionado para crescer. (…) Nós ficamos caros antes de ficar ricos”, lamentou.

Geraldo Alckmin também defendeu a reforma no sistema previdenciário. “A população entende, a gente precisa explicar”, disse. Para ele, o atual sistema de previdência pública é um “Robin Hood às avessas”, em que as pessoas mais pobres pagam para sustentar grandes aposentadorias de servidores que recebem acima do teto.

“Vítima”

Alckmin disse que o governo estadual é “vítima” da máfia das merendas revelada em São Paulo. Tentando explicar o caso, o governador disse que lei federal obriga que 30% das compras para as merendas sejam oriundas de agricultura familiar. Uma das cooperativas que ganhou a licitação, no entanto, foi foi flagrada pela polícia praticando fraude. “Essa coperativa fazia estelionato. O produto que ela entregava não era do pequeno agricultor”, disse. “O governo é vítima de um estelionato”, afirmou o governador.

Sobre eventuais punições, ele afirmou: “Doa a quem doer. a lei é para todo mundo”. Ainda no assunto, Alckmin comentou a participação do deputado estadual Fernando Capez, nome forte do PSDB, citado por delatores: “ele vai se explicar, vai esclarecer e vai responder”.

Vida pessoal

O governador também foi questionado se é um “workaholic” e se isso afeta sua vida pessoal e familiar. “Eu gosto de trabalhar, para mim não é um grande sacrifício”. Ele confessa, porém: “mudei um pouco depois que perdi meu caçula”. Thomaz Alckmin faleceu aos 31 anos após um acidente de helicóptero no ano passado. Alckmin diz “dedicar mais tempo aos filhos, à família” e lembra que seu sexto neto está a caminho.

Sobre seus gostos e preferências, ele disse: “Eu sou cafezeiro. Saindo daqui sempre eu paro numa padaria, tomo um cafezinho (…). Eu já fui nos 645 municípios e sempre dou uma parada para o cafezinho”, apesar de alguns serem “3 efes: fraco, frio e formiga no fundo”. “A parte boa da política é o povo. E o povo erra menos que as elites”, disse.

Após comemorar a superação da crise hídrica superada em São Paulo, o governador ainda brincou e lembrou os momentos de falta de água. “Eu falei para a (esposa) Lu: agora é economia total: você escova o dente e engole a água”.

Lembrando que a vacina contra a gripe está disponível para crianças de 6 meses a 5 anos e idosos, Alckmin também emendou: “não chamo de idoso porque é acima de 60 anos de idade. E 60 anos é um brotinho”.

Alckmin também disse não ficar irritado com apelidos. “O (comediante) José Simão me chamou de ‘picolé de chuchu’ e eu não fiquei bravo”, disse. “Quem tem que estar na ribalta são os artistas, homens da cultura. Política é trabalho”.

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