Desenvolvedor de vacina contra a Covid-19 repetiu a 8ª série e estudou para ‘sobreviver’

  • Por Jovem Pan
  • 09/06/2020 14h14
Reprodução/Redes sociais O pesquisador Gustavo Cabral de Miranda participou do Pânico nesta terça-feira (9)

O pesquisador Gustavo Cabral de Miranda contou, em entrevista ao Pânico nesta terça-feira (9), as novidades sobre o desenvolvimento da vacina brasileira contra a Covid-19. Ele lidera o grupo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) que está buscando a vacina contra a doença causada pelo novo coronavírus.

Natural de um pequeno povoado no município de Tucano, no interior da Bahia, Cabral contou que entrou na faculdade para “sobreviver”. Desde os 8 anos de idade, o pesquisador ajudava os pais em feiras. Aos 15 anos, ele se mudou para a cidade de Euclides da Cunha, também na Bahia, e trabalhava em um açougue enquanto estudava. “Eu acordava 3h da manhã para ir ao açougue trabalhar e chegava em casa às 15h. Quando ia para a escola, à noite, dormia já na primeira aula”, disse.

Por causa da jornada de trabalho, ele ficou três anos na 8ª série e só conseguiu se formar no ensino médio aos 21 anos. Mas isso não o impediu de se graduar em Ciências Biológicas na UNEB (Universidade do Estado da Bahia) e fazer doutorado na Universidade de São Paulo (USP). O ápice veio com o pós-doutorado na Universidade de Oxford, na Inglaterra, uma das mais prestigiadas do mundo.

“Entrei [na universidade] numa época quando tinha investimento em ciência e tecnologia, em 2004”, disse Gustavo. “Isso é o que acaba com a ciência no Brasil, a gente tem picos de investimentos”, lamentou.

Ele defendeu a importância do investimento público em ciência e pesquisa. “Não importa se você é de esquerda ou direita, conhecimento é caro, e a gente precisa produzir conhecimento. Isso depende de instituto de pesquisa e universidade pública”, afirmou, lembrando que países de primeiro mundo “colocam pesquisa, ciência e inovação no topo”.

Vacina

Em relação à vacina contra a Covid-19 que ele está desenvolvendo, Gustavo Cabral de Miranda disse que não espera que ela esteja pronta antes do ano que vem.

“A coisa não é tão simples assim. A gente precisa de tempo para saber se tem efeito colateral, se protege do vírus a longo prazo”, explicou.

Apesar das pesquisas em outros países estarem mais avançadas, o cientista defendeu que o Brasil continue o investimento para ter uma vacina própria. “A gente tem que chegar até o fim porque não é só a vacina, a gente produz o conhecimento e o insumo”, disse. Ele lembrou da epidemia de zika vírus. “Um monte de gente prometeu vacina para o zika, mas não tem até hoje. Agora está tendo investimento [para o combate à Covid-19], mas e ano que vem, quando a poeira baixar?”, questionou.

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