“A gente precisa azeitar a democracia, porque a nossa está enferrujada”, diz Sérgio Britto

  • Por Jovem Pan
  • 06/06/2014 14h35
Nathália Rodrigues

Com mais de 30 anos de carreira, os Titãs estão em um momento de renascimento. Logo depois de lançar seu 18º disco chamado Nheengatu, a banda lançou ontem (05) no Youtube seu novo clipe, Fardados. Com um rock de peso, o novo álbum remete aos primórdios dos Titãs, com semelhanças do disco Cabeça de Dinossauro, de 1986.

A banda passou por uma renovação. Agora com cinco integrantes, conta com o baterista Mário Fabre. Paulo Miklos está no vocal e na guitarra, Branco Mello e Sérgio Britto se revezam no baixo e Tony Belloto na guitarra.

“A gente passou por um processo bom do último disco [Sacos Plásticos] para cá. Saiu o Charles e entrou o Mário na Bateria. A gente revisitou o Cabeça de Dinossauro e foi tão bacana que fizemos uma grande turnê e regravamos o CD e DVD. Agora estamos com a formação nova, com um rock mais básico, mais nervoso. Esse processo levou cinco anos e desembocou em Nheengatu”, lembra Branco. “ A gente precisa azeitar a democracia, porque a nossa está enferrujada”, d

Ao contrário da letra divertida de Cabeça de Dinossauro, que foi criada espontaneamente, as músicas de Nheengatu são muito críticas e foram inspiradas no momento político do Brasil. “Fardado foi feita na época das manifestações de junho do ano passado. O bordão ‘Fardado, você também é explorado’ é usado em manifestações. Eu vi uma foto de uma garota delicada no meio de um protesto, segurando um cartaz com essas palavras, e fiquei pensando que aquilo era um paradoxo.”, explica Britto.

“A música questiona o cara que tá fardado. Ela diz: ‘ponha-se no meu lugar, pessoa fardada, você também é um cidadão, você também é explorado’. É preciso um amadurecimento muito grande para não cair em provocação de ambos os lados. A gente tá amadurecendo isso”, complementa Paulo.

Segundo Britto, a democracia é feita do equilíbrio entre os três poderes. E fala sobre as necessidades dos cidadãos brasileiros: “Não só precisamos colocar a pessoa lá, mas também tirar uma pessoa de lá. Também precisamos do quarto poder, a imprensa precisa ter liberdade. A gente precisa azeitar a democracia, porque a nossa está enferrujada. Isso gera revolta, sensação de impotência. O disco é uma polaroide do que a gente tá vivendo”, diz ele.

Nheengatu é uma língua derivada do tupi-guarani, criada pelos jesuítas no século XVII para unir as tribos do Brasil e os portugueses. Assim todos poderiam se entender. Já a capa do disco, uma imagem da Torre de Babel, faz referência à dificuldade de comunicação e como isso resultou em desastre.

“É como os estádios e aeroportos do Brasil, ninguém se entende e tudo meio que parou”, compara Paulo. “A copa é um grande momento, um palco onde as coisas podem acontecer, a gente pode levantar bandeiras”, diz ele.

Durante o Pânico, a banda falou mais sobre o momento político do Brasil, falou sobre o DVD Cabeça de Dinossauro, contaram mais detalhes do novo álbum. Confira na íntegra o áudio.

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