Jacaré Banguela fala pela 1ª vez após polêmica: "perdi tudo que conquistei por um tuíte"
Você provavelmente ouviu o nome de Rodrigo Fernandes no mês passado. Criador do site Jacaré Banguela, o humorista publicou uma piada nas redes sociais que desagradou muitos de seus seguidores. Na ocasião, ele viu uma foto do ator Will Smith posado ao lado do filho Jaden Smith e comparou o rapaz com um “flanelinha”, sendo imediatamente acusado de racismo. Em entrevista ao Pânico nesta quarta-feira (8), ele falou pela primeira vez sobre o caso.
“Acho que deixei a piada aberta a interpretações. Se eu fizesse outra primeiro, dissesse ‘olha, ele parece o Zina do Pânico’, teria zero interpretações. Me senti um pouco injustiçado. Esse é meu sentimento, não a verdade. Caramba, por que estou perdendo absolutamente tudo que conquistei por um tuíte? As pessoas não podem ignorar as bobagens que eu falo? Faço isso o dia todo, falar bobagem. Se passei do limite de alguém, o cara que me ignore. Acho que nesses anos mais acertei do que errei, por isso continuo fazendo. Vale julgar tudo que fiz até agora? Talvez eu tenha tomado noção do quão grande é isso tudo. Uma ação pequena leva a coisas muito grandes”, disse.
“Comecei a ficar com medo de subir no palco para fazer stand-up. Será que alguém vai me bater? Aconteceu com o Ben Ludmer. Ele é gordo, estava fazendo piada de gordo e um cara subiu no palco e deu um soco nele. Fiquei pensando, será que vão me agredir? Fiquei com medo. Não quero entrar no ‘não existe racismo’ no Brasil, claro que existe, olha o vice do Bolsonaro falando m****. Minha discussão é: falei que um milionário estava mal vestido e virei um racista para alguns grupos de pessoas. Uma galera que nunca tinha ouvido falar de mim veio com um julgamento pronto. Isso me pesou. O cara nem sabe quem eu sou. Mas o site vende a manchete pronta e aquilo vira uma verdade”, completou.
Caso Cocielo o influenciou?
Vamos relembrar o que aconteceu exatemente. O comediante escreveu, em tom de brincadeira, que “tinha certeza” que Jaden “havia pedido dinheiro a ele dizendo que estava olhando seu carro”. Depois de receber uma enxurrada de críticas, apagou o post e escreveu uma retratação – sem, no entanto, pedir desculpas. “Bem, o que eu fiz está feito e apagado. Agora o julgamento é com vocês. Discordo de algumas opiniões, mas o espaço está aberto e o debate sempre será livre”, disse. Isso foi agravado ainda mais porque, poucos dias antes, o youtuber Júlio Cocielo havia protagonizado outra discussão semelhante na web.
“Nada disso foi pensado. Sinceramente. Olha o que aconteceu com o Cocielo, não fazia sentido eu querer cravar uma fama de racista. Olhar ele perdendo patrocínio e pensar ‘acho que é isso que preciso’. Não faz sentido (…). Mentalmente é uma pressão muito grande. Um desconhecido vindo te ameaçar de morte? Caramba! Ok, nunca mataram um comediante, mas não quero ser o primeiro. Não queria pagar para ver. Não estou a fim. Faço terapia, deu uma cagada na cabeça. Agora analiso, mais distante. Consigo olhar para isso. Na semana que aconteceu eu não saberia falar nada. Nesse ponto de agora ainda estou confuso! A piada saiu do controle, apaguei, começaram a me exigir um pedido de desculpas, pressionaram os canais para me tirar, me tiraram… o que está acontecendo?”.
Saída “amigável” do Programa da Eliana
Rodrigo detalhou ainda o que aconteceu com sua presença no programa da Eliana, do SBT, onde participava de um quadro. Logo após a polêmica, o diretor da atração o chamou para conversar e eles “amigavelmente” entraram em um acordo.
“Quando começaram a me acusar, as pessoas foram pedir uma resposta ao programa. Eles tinham que fazer alguma coisa. Aí falaram ‘vamos tirar você das gravações por enquanto’. Entendo o programa dar um tempo. Entendo esse jogo. Beleza. Vou para a geladeira com o Melocoton e o Chiquinho. Pode ser que eu volte, pode ser que não volte”, contou.
Além disso, o Comedy Central, canal que agrega trabalhos de humoristas do mundo todo, desistiu de exibir um especial com ele que iria ao ar ainda nesse ano e retirou outros materiais que já tinha. Sua presença ainda foi cancelada em uma série de eventos.
E quem o defendeu?
Em meio a esse cenário, o comediante recebeu apoio de colegas como Rafinha Bastos, Danilo Gentili, Maurício Meirelles e Leo Lins. “Muita gente me ajudou. Isso foi incrível. Quero agradecer os amigos que me mandaram mensagem, a cabeça dá uma pirada nesse momento. Apareceu gente com quem não falo há muito tempo. Isso foi importante, eu só estava recebendo porrada”.
“Muitos negros me defenderam, inclusive. Isso me tranquiliza. Eu parei para pensar, não sou de briga. Vou fazer uma camiseta ‘paz nos estádios’ (risos). Vieram querendo briga e eu recuei, não queria, só queria fazer comédia. Escrevi o que escrevi, as pessoas interpretaram de outra maneira. Queriam que eu pedisse desculpas por algo que interpretaram que escrevi. Será que eu to errado? (…). Não sei quem estabelece o que é preconceito e o que não é. No dicionário, racismo é uma raça se achar superior a outra. Em nenhum momento falei isso (…). Tem uma frase antiga que diz assim: eu sou responsável pelo que digo, não pelo que você entende. Comédia é isso. Você está livre para fazer seu protesto”, finalizou.
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