José Padilha revela que recusou diversos projetos da MGM até aceitar o “RoboCop”

  • Por Jovem Pan
  • 26/02/2014 14h21
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Jovem Pan

Quando criou sua pequena produtora, em 1997, no Rio de Janeiro, ele não podia imaginar que se tornaria um dos cineastas mais reconhecidos do Brasil. Muito menos que ficaria popular também no exterior e seria chamado para dirigir astros do calibre de Gary Oldman, Samuel L. Jackson e Michael Keaton. José Padilha, porém, conquistou isso e muito mais. Em entrevista ao Pânico nesta quarta-feira (26), o diretor contou como conseguiu chegar a Hollywood, revelando que, no caminho, se deu ao luxo de recusar trabalhos da milionária MGM. 

“Desde o começo estou com um agente, um camarada que viu meus primeiros filmes e quis me representar lá fora. Aí fiquei indo e vindo dos Estados Unidos, fiz alguns documentários por lá. Quando o Tropa de Elite saiu e ganhei um prêmio em Berlim, começaram a me ligar mais. Finalmente, com o Tropa de Elite 2, que teve uma bilheteria grande, falaram: ‘pô, o cara é bom’. Aí me convidaram para uma reunião na MGM e me propuseram uma série de projetos. Eu não quis fazer nenhum. Disse ‘não’ várias vezes. Mas vi que atrás da mesa de um diretor tinha um pôster do RoboCop. Aí falei: ‘olha, não quero nenhum desses, mas me interesso pelo RoboCop’. Contei minha ideia, eles gostaram e aqui estou eu”, disse. 

Padilha, em seguida, narrou alguns detalhes do processo de produção do longa-metragem, que acaba de estrear nas telinhas. Ele afirmou que sua principal intenção foi a de evitar repetições e criar um filme totalmente diferente do primeiro (lançado em 1987). Para isso, apostou no lado satírico da história.   

“O pessoal que fala mal de remakes tem razão, o que tem remake ruim por aí é uma grandeza. Eles tendem a ser ruins. Por isso tentamos não repetir o primeiro filme. Fizemos outro filme inspirado no mesmo personagem. E é uma sátira da política externa norte-americana, uma sátira da mídia. A galera gostou dessa pegada brasileira. Não é comum um filme americano ter esse tipo de viés político. A gente conseguiu colocar no RoboCop e funcionou. Ele passou a ter um motivo, não a ser só um remake”, explicou. 

O carioca estreou como diretor em 2002, após escrever roteiros e produzir projetos menores, com o documentário Ônibus 174, que narra o marcante episódio do sequestro de um ônibus na zona sul do Rio. Por sua abordagem sociológica, o filmeJosé Padilha revela que recusou diversos projetos da MGM até aceitar o “Rob foi elogiado não só por profissionais do cinema, mas também por especialistas das ciências humanas. O mesmo aconteceu em 2004 com Estamira, de Marcos Prado, de que assinou a produção.  

Apesar do sucesso, o cineasta ainda não havia conquistado o grande público. Sua consagração, porém, não demorou a acontecer. Veio mais especificamente em 2007, quando lançou Tropa de Elite. Nele, Padilha foi uma espécie de “faz tudo”: atuou como diretor, roteirista e produtor. Além de ter batido recorde de público, levou o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cinema de Berlim de 2008. A continuação da história, Tropa de Elite – O Inimigo Agora é Outro, que faturou ainda mais com bilheterias, veio dois anos depois. 

O convidado aproveitou sua participação na bancada para relembrar também esses seus trabalhos antigos e compará-los com o último. 

“É diferente. Algumas coisas são mais fáceis por aqui, outras são mais difíceis. Aqui não tem dinheiro, lá tem muito. O Tropa de Elite, que é grande para os padrões nacionais, custou 6 milhões de dólares. O RoboCop custou 130 milhões de dólares. Então tem mais equipamento, mais estrutura. Por outro lado, aqui eu faço tudo com o filme. Escrevo, dirijo, produzo, lanço. Lá tem uma galera preocupada com tudo que vou fazer. E eles têm toda razão, estão investindo tanto”, disse. “Por isso, acho que fazer o RoboCop foi mais difícil. Com o Tropa, foquei 100% do meu tempo no filme. Lá em Hollywood, 50% foi em conversa, reunião, explicações. É um gasto enorme de energia e tempo”, completou.   

Durante a entrevista, Padilha ainda contou como foi trabalhar ao lado de gigantes da indústria, deu sua opinião sobre o atual cenário do cinema brasileiro, nomeou seus diretores e atores preferidos e adiantou um projeto que está desenvolvendo com a Netflix – além de fazer palpites para a edição de 2014 do Oscar. Confira a íntegra no áudio.

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